O caráter reacionário e conservador de Rui Moreira e de todo o seu executivo já era bem conhecido: protagonizaram a expulsão da classe trabalhadora das suas casas para criar uma cidade rendida ao turismo, beneficiando a patronal da restauração e dos ALs em detrimento dos trabalhadores. O aprofundamento da crise económica fez com que os defensores do capital aumentassem a repressão, como vimos com a recente Movida, colocando câmaras de vigilância e um maior corpo policial na rua. Os ataques feitos agora à Marcha do Orgulho LGBTI+ do Porto (MOP) são a continuação deste ataque à nossa classe!

Rui Moreira: cabecilha da reação

No ano em que a MOP celebra o 18º aniversário, o executivo do Porto demonstrou novamente em que trincheira está. Negando a utilização do espaço do Largo Amor de Perdição apenas 10 dias antes da Marcha, sugeriu que o arraial fosse celebrado no Parque Municipal do Covelo — bem afastado do centro da cidade para evitar incomodar qualquer turista. Isto implicaria ainda desligar o final da Marcha e o arraial, evitando que fossem lidos os manifestos das várias organizações que participaram na sua construção. Foi ainda negado qualquer pedido de financiamento (num primeiro momento 10 mil euros, depois 8 mil euros), sendo que no mesmo dia que acontecia este ataque eram aprovados 300 mil euros para a Comic Con Portugal, sendo que ainda neste mandato tinham sido aprovados 600 mil euros (!) para o festival Primavera Sound.

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Protagonizaram a expulsão da classe trabalhadora das suas casas para criar uma cidade rendida ao turismo, beneficiando a patronal da restauração e dos ALs em detrimento dos trabalhadores.

Entre todas as desculpas que foram dadas nesta tentativa de apagar a nossa luta, a mais irrisória é a de que o executivo do Porto já apoia o Porto Pride! Um evento levado a cabo pela Associação de Comércio e de Turismo de Portugal, encabeçado por nada mais nada menos que por empresas que tentam lavar a cara do seu papel na opressão da nossa comunidade!

São estes os burgueses que lucram com o Alojamento Local e sobem as rendas, impedindo-nos de sair das casas onde somos oprimidos e violentados, ao mesmo tempo que pagam salários de miséria, fazendo com que uma vida independente seja completamente impossível, e que dão a mão aos fascistas que a cada dia nos agridem nas ruas da cidade. Não estamos na mesma trincheira!

O ataque à MOP não acontece por acaso. Qualquer trabalhador e jovem pertencente à comunidade LGBTI+ representa um perigo para este sistema: sabemos que em capitalismo não vamos encontrar libertação nem da opressão da nossa sexualidade nem das condições de vida miseráveis a que somos sujeitos. Por isso é que é preciso empurrar-nos para longe da cidade, de volta para o armário!

O Orgulho tem que ser anticapitalista: Lutar como em Stonewall

Precisamos de apontar claramente o dedo a Rui Moreira e a todo o seu executivo, dizer bem alto o papel que têm na perseguição e violência que é dirigida à nossa comunidade. Não é por acaso que as mensagens de ódio contra pessoas LGBTI+ aumentaram 185% nos últimos 4 anos! Os obstáculos colocados no nosso caminho, tentando que a MOP não aconteça, vindos diretamente da Câmara do Porto, enchem o peito para qualquer machão se sentir à vontade para nos agredir e insultar. E contra esses fascistas não podemos contar com os burgueses do Porto Pride.

A longa história do nosso movimento esteve, a cada passo, de mão dada com a luta de todos os trabalhadores. Da mesma forma, sabemos que um burguês da comunidade LGBTI+ se vai aliar sempre aos restantes burgueses na luta para nos espezinhar. O nosso orgulho é também um orgulho de classe.

A homofobia e a transfobia servem apenas para defender a existência de trabalhadores de 1ª e de 2ª ordem. Tal como o machismo ou o racismo, estas ideias absolutamente podres servem para que a classe dominante justifique um salário baixo aqui e um salário ainda mais baixo além. Por isso é que as nossas lutas são a mesma: uma luta contra o sistema capitalista.

Este sistema está podre e aqueles que o defendem, desde a polícia aos órgãos governamentais, colocam os mais oprimidos nas suas miras precisamente por sermos os que não temos nada a perder, os que já há muito rejeitamos a lógica do mercado e do lucro.

As crises económicas são cada vez mais destrutivas e a burguesia europeia está corroída e a perder o seu lugar de domínio no contexto global. Isto implica que agora não podem abdicar das mais mínimas migalhas que abdicaram antes. É mais urgente que nunca cerrar fileiras e lutar para derrubar este sistema.

Contra a podridão do sistema: organização e luta!

Ao mesmo tempo, precisamos ainda de tirar daqui as conclusões necessárias. O financiamento do qual dependemos, tanto para organizar a Marcha como para apoiar financeiramente pessoas LGBTI+ em risco, não pode depender decisivamente do Estado. O Estado, esteja quem esteja sentado nas suas poltronas, vai servir os interesses da classe dominante. Só o nosso autofinanciamento pode garantir a independência material e ideológica que precisamos para conseguirmos ser a vanguarda na libertação de todos nós.

O arraial é uma grande forma de conseguir esse financiamento, sendo ainda um dos poucos espaços em que a nossa comunidade se sente confortável para estar e se divertir, mas não é suficiente.

Novamente, precisamos de relembrar a herança que a nossa classe tem: caixas de resistência, coletas, rifas, atuações, etc… como heroicamente foi feito pelo grupo Lesbians and Gays Support the Miners. Doutra forma estaremos à mercê dos órgãos estatais que por tantas vezes mostraram já em que trincheira estão.

De nenhuma maneira podemos ainda aceitar a diluição da nossa luta em qualquer evento que não aponte as armas ao sistema capitalista. Não seremos marionetes da burguesia! São vocês que lucram com a nossa opressão, é contra vocês que protestamos e marchamos!

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São vocês que lucram com a nossa opressão, é contra vocês que protestamos e marchamos!

Nunca teremos um momento de paz enquanto vivermos debaixo deste sistema: a burguesia vai sempre querer aumentar os lucros, subir rendas, arranjar novas formas de lucrar com a nossa opressão. Da mesma forma, a nossa libertação prende-se com a libertação de toda a classe trabalhadora: emprego com salários dignos e habitação para todos, a organização da nossa autodefesa em cada bairro e em cada empresa - não confiamos nos fascistas fardados de azul para nos defender! — e a nacionalização dos setores chave da economia sob o nosso controlo democrático — as nossas necessidades não podem estar nas mãos de um punhado de capitalistas! Vivemos as mesmas condições miseráveis, devemos levantar o mesmo programa!

Nenhum ataque sem resposta! As ruas são nossas!

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