No dia 21 de Dezembro, Luís Giovani dos Santos Rodrigues, jovem de 21 anos, negro, cabo-verdiano e que chegara a Portugal há apenas dois meses para estudar, foi, tal como os amigos que o acompanhavam, espancado por um grupo de cerca de 15 homens armados com paus e ferros que os esperavam à saída de um bar, em Bragança. Dez dias mais tarde, no Hospital de Santo António, no Porto, Giovani acabou por morrer, vítima dos ferimentos.
Pelos contornos do crime, somos levados a acreditar que se trata de um acto de violência racista. Saltam à vista as semelhanças com o assassinato de Alcindo Monteiro às mãos de um bando de fascistas, em 1995, no Bairro Alto.
Mas onde o racismo já se mostrou inquestionavelmente é na forma como este assassinato é tratado tanto pela comunicação social burguesa como pelos órgãos do Estado burguês. Em mais de 10 dias, a polícia não foi além da “identificação” de apenas dois suspeitos de um grupo de assassinos que, segundo todas as informações que nos chegam, é conhecido pela sua violência precisamente na zona onde os jovens foram espancados.
A comunicação social, por sua vez, não só ignora olimpicamente os contornos racistas de um crime com um nível de violência atroz, como ainda o relega a uma nota de rodapé nos telejornais. A notícia, de momento, não é o assassinato mas antes o pedido de clarificação apresentado pela embaixada de Cabo Verde à polícia portuguesa.
Fica claro que se trata aqui de um ataque que, tal como todas as agressões e homicídios racistas dos últimos anos, conta com a cumplicidade do Estado e da burguesia no seu conjunto, é mais um passo em frente das forças que pretendem esmagar as organizações da classe trabalhadora, os trabalhadores negros, ciganos e imigrantes, as mulheres e as pessoas LGBT. A organizações sindicais e políticas dos trabalhadores precisam de agir energicamente perante mais este ataque, que se junta a uma cadeia de agressões racistas e fascistas como o caso de brutalidade policial no bairro da Jamaica, há um ano.
Mais uma vez, a inutilidade do Estado burguês para garantir a nossa segurança é patente. Não podemos depositar qualquer confiança nestes órgãos. A luta contra o racismo é necessariamente uma luta contra a exploração e contra o Estado que garante essa exploração, contra as condições degradantes de vida — no trabalho, na habitação, nas dificuldades de acesso à saúde, à educação e à cultura —, contra um sistema no qual não temos poder para determinar as nossas próprias vidas — em suma, contra o capitalismo. A classe trabalhadora organizada, na luta por esse poder, é a única força capaz de derrotar a extrema-direita. Há que colocar investigações como as deste caso, assim como toda a polícia, sob o controlo de organizações de trabalhadores e moradores, sanear todos os fascistas da polícia e conquistar, por meio da mobilização de massas, de greves, de ocupações e de todos os meios eficazes de luta, uma sociedade na qual o racismo e o restante lixo ideológico da extrema-direita não tenham qualquer espaço para respirar: o socialismo.
A Esquerda Revolucionária manifesta aqui a sua solidariedade com a família da vítima e reafirma, perante este novo ataque, o seu compromisso com a luta anti-racista e anti-fascista.
Está na hora da organização e da luta!