Os últimos anos têm sido marcados por passos de gigante por parte da classe trabalhadora e da juventude. As manifestações feministas que enchem as ruas de todo o mundo, o movimento Black Lives Matter que transbordou as fronteiras dos Estados Unidos, os levantamentos multitudinários contra a destruição do planeta, as gigantescas greves gerais que fizeram tremer a burguesia francesa e, mais recentemente, o movimento em solidariedade com o povo palestino mostram o caminho para a nossa luta. Mas a força que a nossa classe tem demonstrado assusta, e com razão, a classe dominante. A sua resposta tem sido o aumento da repressão por parte das instituições “democráticas” e, ao mesmo tempo, o atiçar da extrema-direita.
Portugal não é um caso à parte. Também aqui nos deparamos com uma classe trabalhadora e uma juventude que enche o peito e mostra a sua firmeza nas ruas, nos locais de trabalho e de estudo. Mas a resposta por parte da burguesia tem sido a mesma que noutros países. A marcha neonazi e a contra-manifestação que impediu estes fascistas de passarem pelo bairro da Mouraria no passado sábado foram um claro exemplo disso e foram também uma nova demonstração da trincheira em que as “forças de segurança” estão.
Uma autêntica guarda de honra para os fascistas
Depois da convocatória da marcha neonazi, a resposta por parte dos trabalhadores e dos jovens foi exemplar. A convocatória de uma contra-manifestação e o enorme apoio que encontrou entre os trabalhadores do bairro e de Lisboa inteira enviou ondas de choque por todo o país. Foi exatamente esta resposta que forçou o Estado a declarar a marcha como ilegal. Isto tem que ser visto como uma pequena vitória do movimento. Não fosse esta resposta contundente, os grandes democratas da Câmara de Lisboa e dos tribunais não diriam uma palavra e mostrariam novamente que a sua política é o total abandono dos oprimidos.
Esta é a liberdade de expressão e de manifestação com a qual a burguesia não tem qualquer problema: nazis a desfilar por um bairro de imigrantes para intimidar e agredir trabalhadores! Ainda assim, a resposta desprezível do Estado burguês não ficou por aqui. Mesmo depois do movimento antifascista conseguir arrancar à Câmara e ao tribunal a ilegalização da marcha, os neonazis marcharam, não só com impunidade, mas com o total apoio por parte da polícia. Protegeram e colocaram-se à cabeça de uma manifestação ilegal, uma autêntica guarda de honra para os nazis: este foi o papel das “forças de segurança” no passado sábado. Mais ainda, sem qualquer aviso, a polícia carregou sobre os manifestantes antifascistas com enorme violência. Aqui está a natureza dos que garantem a ordem e a segurança!
Não podemos esquecer que não há muito tempo foram estas mesmas fardas a obrigar raparigas a despir-se em plena esquadra depois de um protesto pelo clima, mostrando completamente o seu caráter machista; são também estas mesmas fardas que à primeira oportunidade disparam balas de borracha e soltam os cassetetes em manifestantes anti-racistas. Achar que a polícia pode ser reformada é uma completa utopia!
A repressão dos pobres é o ADN das “forças de segurança”
Os vínculos constantemente encontrados entre a extrema-direita e a polícia deixam também cair por terra a lenga-lenga de que a polícia “só cumpre ordens”, essa bandeira que tantas vezes é agitada quando os vemos a despejar famílias pobres para benefício dos fundos imobiliários. Esta é a verdadeira natureza dos corpos de segurança do Estado Burguês: a repressão e intimidação dos trabalhadores e dos jovens.
Igualmente falsa é a ideia de que os polícias são enganados ou instrumentalizados pela extrema-direita. Os fardados não batiam em manifestantes antes do Chega? Não aterrorizavam bairros inteiros antes do Movimento Zero? O fascismo cumpre uma única função para o grande capital: esmagar as organizações dos trabalhadores e da juventude e aterrorizar qualquer um que exija mais do que as migalhas que os bancos e as empresas nos dão. No fundo, moer a classe trabalhadora para que esta não ouse em levantar-se contra os burgueses. E isso não é nada mais nada menos que o dia-a-dia das “forças de segurança”.
Dois ângulos do mesmo momento. Polícia a impedir jornalistas devidamente identificados de fazer o seu trabalho à biqueirada. https://t.co/ajEfNOwfq1 pic.twitter.com/xWARCTShnP
— João Biscaia (@joobiscaia) February 4, 2024
Isto não implica que tenhamos que ignorar o crescimento da extrema-direita. A marcha neonazi, as mais recentes agressões xenófobas e homofóbicas e o crescimento eleitoral do Chega e da Iniciativa Liberal são tudo sintomas de que esta doença está a crescer e devem ser tomados com toda a seriedade.
O grande capital aperta cada vez mais o cerco sobre a pequena-burguesia e a classe trabalhadora. E alguns setores da pequena-burguesia, mais conservadora, mais rançosa e em desespero tentam por tudo passar esse aperto para os trabalhadores como forma de manterem os seus privilégios. Este crescimento da extrema-direita que temos visto é resultado do declínio das condições de vida destes pequeno-burgueses e do aumento brutal do financiamento por trás destes partidos e organizações, fruto da passagem de uma parte da grande burguesia para o campo do fascismo.
Precisamos de um antifascismo de classe!
O fascismo nunca ameaçou a base deste sistema — a exploração da gigantesca maioria da população para benefício de um punhado de capitalistas. Muito pelo contrário, ao longo da história o fascismo foi uma absoluta necessidade para que a classe dominante pudesse continuar a viver luxuosamente dos frutos do nosso trabalho enquanto a nossa classe se afundava na miséria. Por isso é que tudo o que encontramos por parte do Estado são palavras vazias em defesa de uma “democracia” em abstrato.
Os meios de comunicação social também já demonstraram que a extrema-direita não os incomoda muito. Horas e horas de transmissão do programa do Chega, dos comentários de Ventura, dos seus congressos ou apresentar Mário Machado como um normal e corrente licenciado em Direito, em vez de o apresentar como o homicida e neonazi que é, têm um papel importante no crescimento do fascismo.
Por isso é que precisamos de um antifascismo que não dependa do Estado, das suas políticas de gabinete ou dos seus meios de comunicação. Somos muitos mais que eles! A nossa classe nunca contou com tantos braços prontos para levantar um punho cerrado contra o capital e os seus cães de guarda. Mas o elemento fundamental no choque entre classes é a organização, não os números. Só podemos depender de nós e da nossa organização!
A concentração do dia 3 foi um exemplo do potencial que a nossa classe tem. Não foi só evitar que os fascistas conseguissem intimidar os moradores do bairro, foi também afirmar, alto e bom som, que os trabalhadores são um só, que perante a ameaça fascista não nos calamos e, ainda, demonstrámos a melhor forma para todos os trabalhadores e jovens ganharem confiança nas suas forças.
Este é o caminho!
Junta-te à Esquerda Revolucionária!
É hora da organização e luta!