No passado dia 18 o executivo de Rui Moreira protagonizou mais um passo em frente na completa venda da cidade aos interesses do imobiliário. Com um falso discurso de que a vizinhança se queixava do barulho, foram despejados 600 artistas e produtores do centro comercial STOP, sem qualquer aviso prévio, e aos quais não foi garantida nenhuma alternativa.

Mais uma vez, atacar os pobres e beneficiar os multimilionários

É preciso deixar bem claro que isto não acontece porque a Câmara Municipal está muito preocupada com o bairro. As dificuldades da classe trabalhadora nunca foram problema para Rui Moreira. Pelo contrário, ele foi a ponta de lança da criação de uma cidade em que os trabalhadores não conseguem viver de forma digna: por um lado, pela especulação imobiliária que nos deixou incapazes de pagar uma renda; por outro, por incentivar uma economia em que a maioria dos empregos são na restauração e hotelaria, setores onde predomina a mão-de-obra barata.

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Isto não acontece porque a Câmara Municipal está muito preocupada com o bairro. As dificuldades da classe trabalhadora nunca foram problema para Rui Moreira.

Se este monárquico realmente se importasse com a nossa classe, há muito que se tinha investido em habitação pública, tomando os imóveis devolutos dos fundos de investimento, e criado emprego público com um salário digno. Esta lenga lenga não é mais que uma tentativa barata de esconder o objetivo real por detrás deste despejo: continuar a venda da cidade aos investidores e expulsar os mais vulneráveis. No fundo, isto segue a mesma orientação política da demolição do Bairro do Aleixo, desde os interesses que levaram aos despejos até às desculpas esfarrapadas.

Mais ainda, se realmente houvesse a mínima preocupação com o bairro, os despejados teriam sido avisados antes da intervenção policial e ter-lhes-ia sido dada uma alternativa. O ocorrido foi exatamente o oposto: nem uma palavra aos 600 artistas e produtores, nem um aviso antes, nem uma alternativa depois.

O aumento da repressão é a resposta da burguesia à crise

Em maio denunciávamos que o massivo investimento na polícia feito por Rui Moreira, de mais de 4 milhões de euros, não era uma tentativa de acabar com a droga no Porto. Era, sim, um investimento nos instrumentos de repressão para este tipo de situações. A crise económica que já se faz sentir desde o início do ano chegou sem que a amolgadela deixada pela crise de 2008 se tivesse reparado. Pior ainda, a burguesia europeia, junto com o seu parceiro estado-unidense, perde a sua posição de domínio mundial a cada dia. Os patrões e os senhorios em Portugal não podem perder a mínima oportunidade para encher os bolsos: são sete cães a um osso!

Mas para construir hotéis, alojamentos locais e centros comerciais mais lucrativos é preciso tirar habitação e espaços de trabalho e lazer à nossa classe. O executivo do Porto, sabendo isto, prepara-se para o embate frontal. A sua trincheira está bem demarcada.

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Para construir hotéis e alojamentos locais é preciso tirar habitação e espaços de trabalho à nossa classe. O executivo do Porto prepara-se para o embate frontal.

A recente Movida representou o aprofundamento da ofensiva contra a nossa classe: limpar as ruas onde nos sentimos seguros e conduzir-nos diretamente para a máfia da noite das Galerias de Paris; o ataque à Marcha do Orgulho do Porto foi parte deste processo: era preciso ensinar a todas as pessoas LGBTI+ que o seu lugar não é no centro da cidade; e o despejo do STOP não é diferente. Se alguma propriedade pode virar um imóvel com o qual especular, vocês vão perder o vosso espaço! A ganância da burguesia não tem limites e no centro da sua mira está a classe trabalhadora.

“Independentes”, PSD, Chega e PS: a reação à espreita

Os ataques à classe trabalhadora e a repressão às mãos da polícia e dos tribunais não são novidade, nem no Porto nem em nenhum lado. Em todas as crises do sistema capitalista, a classe dominante precisou de atacar os direitos conquistados pelos oprimidos. Só recentemente vimos o ressurgir do trabalho infantil nos EUA, as forças armadas gregas a afundar barcos de migrantes no Mediterrâneo, o chicote brutal da repressão contra a greve geral em França, entre muitos outros… e este avanço da reação não conhece fronteiras.

No Porto vemos o Rui Moreira como cabeça da reação, mas também em Lisboa vemos Carlos Moedas a assumir esse papel, com o mais recente ataque a trabalhadores sem-abrigo e imigrantes. Ao mesmo tempo, estamos prestes a receber as Jornadas Mundiais da Juventude — um evento religioso no qual o Estado português espera gastar 74,5 milhões de euros! Um Estado “laico” em completa servidão à Igreja!

Da extrema-direita ao PS vemos a tendência para o reacionarismo. Este governo de Costa que gasta rios de dinheiro com a Igreja é o mesmo governo de Costa que proibiu manifestações e greves durante a pandemia e que lançou a requisição civil contra várias greves no passado.

A nossa resposta vai estar na rua!

Perante o crescimento da extrema-direita e o aumento da repressão, precisamos de ter confiança nas nossas forças. É preciso lembrar que os nossos maiores direitos, como o Serviço Nacional de Saúde, a habitação pública e uma educação de qualidade foram conquistados durante o PREC, quando nem sequer existia Parlamento em Portugal!

É certo que os resultados do PCP e BE foram desastrosos nas últimas eleições, mas isso não implica uma viragem à direita da classe trabalhadora. Foi resultado direto dos jogos parlamentares que significaram a Geringonça. O que vemos na rua é que os professores levantaram um dos maiores movimentos dos últimos tempos, os pré-avisos de greve duplicaram em relação ao ano passado, o setor dos transportes tem estado em constante agitação…

Mais ainda, podemos dizer que perante o ataque do Rui Moreira à Marcha do Orgulho do Porto, a classe trabalhadora e a juventude LGBTI+ mostrou-se mais que disposta a sair à rua para defender os seus direitos! Uma das maiores manifestações no Porto dos últimos anos foi como resposta ao ataque feito pelos órgãos do Estado! E é exatamente assim que temos de responder: com organização e luta.

A burguesia já colocou as cartas em cima da mesa, deixando bem claro que nos próximos tempos, se não aceitarmos os cortes no salário e nos serviços, os despejos e o desemprego, estarão mais que preparados para a repressão. Deste lado da barricada dizemos claramente: vamos estar prontos para vocês!

Contra o fascismo e a opressão, constrói o partido revolucionário!

Junta-te à Esquerda Revolucionária!

JORNAL DA ESQUERDA REVOLUCIONÁRIA

JORNAL DA LIVRES E COMBATIVAS