Foi revelado que o vereador da Câmara Municipal de Lisboa pelo Bloco de Esquerda, Ricardo Robles, comprou, em leilão, um prédio à Segurança Social por 347 mil euros, investiu outros cerca de 650 mil euros no imóvel e o colocou posteriormente à venda pelo preço de 5,7 milhões de euros — para alojamento local! Foi revelado, portanto, que o dirigente do BE eleito com um programa que apresentava como central o combate à especulação imobiliária e aos despejos não passa de mais um especulador imobiliário, lucrando com a crise da habitação em Lisboa.

 

Ricardo Robles traiu o programa do seu partido, traiu cada um dos seus camaradas, traiu cada um dos seus eleitores, traiu todos aqueles que lutam pelo direito fundamental à habitação. Traiu-os por 5,7 milhões de euros.

Em qualquer partido de trabalhadores com um projecto socialista esta traição seria merecedora de expulsão. Sob a actual direcção do BE, no entanto, esta traição mereceu cumplicidade. Em pleno Acampamento Liberdade, perante os jovens militantes e simpatizantes do partido, a coordenadora do BE, Catarina Martins, defendeu o negócio de Robles como perfeitamente legítimo, legal e coerente com o programa do partido. A própria Comissão Política, “órgão que assegura a direcção quotidiana” do partido, enviou uma nota de imprensa reiterando o seu apoio a Ricardo Robles.

Mais uma vez, tal como durante os dois processos de expulsão dos militantes marxistas do Socialismo Revolucionário, tornou-se evidente que a cúpula do BE é hoje uma burocracia. Esta cúpula não só tem milionários entre si como é constituída por defensores de milionários, oportunistas, “camaradas” que têm interesses não apenas alheios como completamente antagónicos aos da classe trabalhadora. De resto
isto já era comprovado pelo apoio do BE ao executivo que mais avançou com a gentrificação de Lisboa.

Apesar de tudo, o BE é mais do que isto. Jovens militantes de todo o país expressaram imediatamente a sua indignação perante a traição de Robles. Mas sem a existência de órgãos de base, esta indignação não tem a possibilidade de enfrentar a burocracia no combate pela necessária transformação do BE num partido dos trabalhadores. Núcleos locais activos, capazes de organizar os militantes por todo o país, garantindo a discussão, a formação política, e a participação democrática das bases na definição do programa do partido e no controlo da sua execução — isto é o fundamental para transformar o BE, e é igualmente o que permitirá desenvolver a ligação às organizações e lutas da classe trabalhadora.

Esta é a enorme tarefa colocada perante todos os socialistas no Bloco de Esquerda, e mais uma vez evidenciada pelas recentes revelações. O Socialismo Revolucionário continua empenhado nesta luta e disposto a travá-la lado a lado com os jovens e trabalhadores do BE. Rejeitamos a legitimidade da nossa expulsão às mãos da burocracia que hoje defende Robles e reafirmamos a intenção de nos formar como uma tendência do partido.

Por um Bloco de Esquerda plural, democrático e socialista!

emocrático e socialista!

JORNAL DA ESQUERDA REVOLUCIONÁRIA

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