A crise do sistema capitalista deixa a descoberto a cruel opressão que enfrentam as jovens e mulheres trabalhadoras. Não somente vivemos a desigualdade social crescente, a exploração capitalista e tudo o que vive a classe trabalhadora, mas somos ainda o alvo das ideias machistas, suportamos uma violência quotidiana e constante.
Sob o sistema capitalista, os ataques contra a mulher trabalhadora adquirem diversas formas, todas elas horríveis, mas, entre elas, as agressões físicas são uma das que demonstram mais claramente até que ponto chegou a degradação social que enfrentamos. Na sua forma mais extrema, estas agressões chegam ao femicídio, que tem aumentado todos os anos em Portugal.
Outra parte, menos visível mas igualmente criminosa, da opressão que sofremos quotidianamente é resultado das políticas capitalistas que adoptam tanto os governos de direita como os social-democratas. Sob este sistema, somos as mais precárias e temos os salários mais baixos. Os cortes na saúde e na educação obrigam-nos a carregar sobre as nossas costas o cuidado das crianças, familiares e doentes. A ausência ou insuficiência de cantinas, de lavandarias, de creches e outros serviços públicos obrigam-nos a suportar o fardo das tarefas domésticas, a abdicar da independência económica, a ser relegadas a uma vida entre as quatro paredes do lar.
E esta precariedade que vivemos como mulheres trabalhadoras é multiplicada sobre as mulheres negras e imigrantes. Sob a violência racista de Estado, às mulheres negras são negados direitos democráticos, são reservados os trabalhos mais inseguros, realizados das formas mais degradantes, com os horários mais longos e salários nada menos do que ilegais. Mais ainda, as leis de imigração completamente reaccionárias, criadas para manter uma parte da nossa classe sobre-explorada na condição de “imigrante ilegal” — ou de falsos imigrantes através da lei da nacionalidade —, condena muitas de nós a viver no medo da deportação, veda-nos o acesso aos serviços públicos, relega-nos a uma cidadania de segunda.
No actual sistema educativo, que é completamente anti-democrático, as administrações das escolas e faculdades, além de não servirem para combater esta opressão, reforçam-na e opõe-se à luta dos estudantes a cada passo. Os comportamentos machistas de colegas e professores são desvalorizados e os agressores são protegidos pelas direcções. E num mundo inundado de pornografia, de objectificação das mulheres e sexualização da violência machista, a “educação sexual” que nos é dada nas escolas é uma farsa que não aborda nenhum dos problemas que enfrentamos como jovens mulheres.
Como jovens e mulheres trabalhadoras, defendemos um feminismo revolucionário e anticapitalista. Sabemos que a luta contra a opressão machista é uma questão central na luta de classes. E por isso o nosso movimento não é de todas as mulheres.
As nossas patroas não estão connosco, estão contra nós. Essas mulheres burguesas — empresárias, banqueiras, ministras que aplicam a austeridade — defendem os lucros acima de tudo, defendem o capitalismo e, portanto, o sistema económico que perpetua a opressão da mulher. Elas beneficiam directamente, enquanto burguesas, dos ataques aos direitos laborais, da descida dos salários e da desigualdade salarial entre sexos, das jornadas laborais extenuantes, dos cortes na despesa do Estado com os serviços sociais, do racismo e da sobre-exploração das mulheres negras e imigrantes. Nas suas empresas, elas são quem nos despede por engravidar ou não nos contrata por considerar que estamos em risco de engravidar. Nas suas casas, são quem nos paga miseravelmente para que sejamos suas empregadas, cozinheiras, lavadeiras e as amas dos seus filhos, sem que nos reste tempo para ser mães dos nossos próprios filhos ou salário para nos garantir uma vida digna. As patroas actuam em tudo exactamente da mesma forma que os patrões. No momento da verdade aliam-se sempre aos seus companheiros de classe contra toda a classe trabalhadora.
Que interesse comum temos nós com elas? Nenhum! Os nossos interesses opõem-se absolutamente aos interesses destas mulheres, o nosso feminismo opõe-se absolutamente ao “feminismo” destas mulheres.
Organização e luta: por um feminismo revolucionário e anticapitalista!
Sabemos que a única forma de acabar com toda esta violência que nos atinge é com a luta colectiva e a mobilização nas ruas. Temos demonstrado a nossa força enquanto jovens e mulheres trabalhadoras quando saímos à rua: nas manifestações massivas contra Trump, no movimento Ni Una Menos na América Latina, nas greves contra o assédio laboral em grandes empresas como a Google e a McDonald’s, com a greve geral laboral e estudantil feminista do dia 8 de Março no Estado espanhol. A luta das mulheres jovens e trabalhadoras não pára de crescer, levantando um grito tremendo contra a violência machista e a opressão capitalista.
Nós, no Sindicato de Estudantes e na Esquerda Revolucionária, reconhecemos que a libertação da mulher trabalhadora é uma questão fundamental para todas as pessoas que aspiram a transformar o mundo. Por isso lançamos a Livres e Combativas, uma plataforma feminista, anticapitalista e revolucionária, unindo as forças de todas as que sofrem a opressão e violência capitalistas numa mesma luta pela transformação da sociedade.
Basta de violência contra a mulher! Nem uma a menos!
Basta de justiça machista! Queremos o castigo exemplar para os violadores, para os responsáveis por maus-tratos físicos e psicológicos, assassinatos e desaparecimentos de mulheres. Basta de leis que não nos protegem. Exigimos o saneamento de todos os polícias e juízes que com a sua actuação protegem os agressores.
Queremos meios materiais e casas de refúgio para as mulheres agredidas. Postos de trabalho dignos e subsídio de desemprego por tempo indefinido, assim como habitação digna garantida para as vítimas de violência doméstica e para os seus filhos.
Nossos corpos, nossa escolha!
Exigimos o direito ao aborto até às 24 semanas, livre, seguro e gratuito. Serviços de planificação familiar públicos e gratuitos, assim como contraceptivos e artigos de higiene feminina gratuitos nas farmácias e centros de saúde. E isto num Sistema Nacional de Saúde público, gratuito e de qualidade para todos!
Exigimos acesso a uma educação sexual inclusiva em todas as escolas e faculdades. Basta de ideias machistas e homofóbicas nos nossos locais de estudo, queremos uma sexualidade saudável na educação pública!
Pelo fim da precariedade! Direitos laborais e o fim da dupla jornada!
Queremos o fim da precariedade e da desigualdade salarial. Salários dignos para a mulher trabalhadora! Um salário mínimo nacional de 900€ e uma semana de trabalho de 30h! Sanções para qualquer empresa que se negue a contratar-nos por estarmos grávidas, por não cumprirmos os seus “padrões estéticos”, pela nossa orientação sexual, pela nossa “raça”, pela nossa religião, etc.; e para qualquer empresa onde ocorra assédio sexual.
Exigimos o direito a doze meses de licença de maternidade para ambos os pais, sem perda salarial. Exigimos creches gratuitas em todas as grandes empresas.
Exigimos direito a habitação acessível para todos e a socialização do trabalho doméstico! Uma rede verdadeiramente nacional de serviços públicos de creches, lavandarias, cantinas e limpeza que tenham condições de trabalho dignas e sejam gratuitos para acabar com a escravidão das tarefas domésticas.
Basta de racismo! Direitos para as imigrantes!
Pelo fim do racismo e da brutalidade policial. Saneamento de todos os polícias e seguranças fascistas e racistas.
Os mesmos direitos sociais e políticos para toda a classe trabalhadora. Igualdade de direitos entre nacionais e imigrantes, direito à nacionalidade portuguesa para todos os trabalhadores imigrantes que pretendam tê-la e para todas as pessoas nascidas em Portugal. Abolição do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF).
Não somos mercadoria!
Basta de converter o corpo da mulher num objecto, alimentando assim as agressões machistas. Exigimos que se retire qualquer tipo de publicidade sexista.
Abaixo o padrão de beleza que nos impõem as grandes multinacionais da produção têxtil, cosmética, dietéctica e de cirúrgia estéctica. Esse padrão não só é absurdo e irreal, como alimenta preconceitos, traumas e doenças.
Lutamos contra uma das violências mais extremas contra as mulheres: a compra e venda dos nossos corpos. Queremos o fim da prostituição e da pornografia — que nada mais é do que prostituição filmada.
Lutamos com toda a nossa classe pelo fim da opressão machista!
Junta-te à Livres e Combativas! Junta-te ao feminismo revolucionário e anticapitalista!