Os últimos meses, marcados pela crise da covid-19 e os períodos de confinamento e recolher obrigatório, viram muitas jovens e mulheres trabalhadoras sofrer na própria pele e da forma mais cruel a brutalidade da violência machista: as nossas casas tornaram-se prisões onde somos obrigadas a conviver dia após dia com os nossos agressores, expostas à ansiedade provocada por uma crise desta magnitude e forçadas a permanecer em silêncio diante de abusos e agressões por medo de sermos assassinadas.
No dia 25 de Novembro, Dia Internacional para a Eliminação da Violência contra as Mulheres, continuaremos a denunciar em voz alta a violência a que estão sujeitas milhões de mulheres, assim como o sistema capitalista que a sustenta.
O movimento feminista pela libertação das jovens e mulheres trabalhadoras tem manifestado uma força imparável. Esta força é demonstrada pelas mobilizações dos últimos meses, que encheram as ruas em diversas cidades de todo o mundo. Na Argentina, mulheres mobilizaram-se pelo seu direito ao aborto e contra as sentenças patriarcais. No México, a luta das nossas companheiras contra os femicídios continua sem dar tréguas. Na Polónia, a estrondosa revolta de mulheres nas ruas abalou o país, em resposta ao mais recente e violento ataque contra os seus direitos reprodutivos. Após dias e dias de protestos, uma marcha de mais de um milhão de pessoas na capital polaca e o apelo a uma gigantesca greve geral, a força da classe trabalhadora conseguiu impedir esta investida! Sentimos esta vitória como nossa, e inspiramo-nos nela para continuar a luta contra o machismo em Portugal.
Este sistema condena-nos à violência, à opressão e à escravatura
Os dados da APAV são assustadores: até agora, em 2020, foram assassinadas 30 mulheres e as tentativas de femicídio em contexto de intimidade quase duplicaram (dados do Observatório de Mulheres Assassinadas). Desde 2004, já foram 564 mulheres assassinadas em Portugal e 663 tentativas de femicídio.
Estes dados ressaltam mais uma vez a profundidade e o carácter sistémico da violência e da opressão a que estão sujeitas as mulheres e as jovens trabalhadoras, além dos limites dos actuais serviços públicos. Os mais de 11.000 milhões de euros que o governo já entregou em ajudas aos capitalistas desde o início da pandemia, além de todo o dinheiro entregue à saúde privada (mais de 40% do orçamento para a saúde), deveriam ter sido canalizados para a educação e para a saúde pública, para os serviços sociais, para garantir direitos e salários dignos aos trabalhadores, para combater a precariedade e a pobreza...
Para efectivamente combater a violência machista, é necessário implementar com urgência medidas muito concretas: assegurar as condições de habitabilidade das casas de abrigo para todas as mulheres agredidas, colocando neste serviço os milhares de casas vazias dos grandes bancos e fundos de investimento. Garantir um subsídio de desemprego digno por tempo indeterminado, proibir os despejos, contratar milhares de profissionais da área da psicologia para o SNS e dar acesso gratuito à saúde mental, revogar as contra-reformas laborais de forma a acabar com a precariedade e a disparidade salarial e a garantir salários dignos. Promover um serviço público e gratuito de creches, residências, lavandarias, refeitórios e limpezas domésticas comunitárias para acabar com a escravidão de mulheres sob o trabalho doméstico e o cuidado de idosos e crianças. Sanear todos os machistas e fascistas da polícia, do exército e do sistema judicial como primeiro passo para acabar com as sentenças patriarcais e a violência deste sistema.
Só com estas medidas — reivindicadas em todo o mundo por milhões de jovens e trabalhadoras que enchem as ruas a cada 25 de Novembro e a cada 8 de Março — é que conseguiremos acabar com a violência e opressão que sofremos.
É desta forma, com políticas verdadeiramente de esquerda, políticas que implicam uma transformação completa das nossas vidas, que somos capazes de combater o ódio e o veneno da extrema-direita — os mesmos que continuam a negar a violência machista, os mesmos que nos culpam a nós, trabalhadoras e pobres, pela expansão da covid-19 quando foram precisamente as suas políticas de cortes, privatizações e injecções de dinheiro público no sector privado que abriram o caminho a esta catástrofe sanitária.
Como demonstra a experiência, somente com a organização e a luta somos capazes de alcançar novos direitos e proteger aqueles que já conquistamos. Não permitiremos que os mesmos de sempre — os grandes empresários, banqueiros, especuladores — continuem a defender os seus privilégios à custa da nossa opressão.
Por tudo isto, estamos muito conscientes de que o combate à violência machista é o combate contra a objectificação e mercantilização dos nossos corpos, contra o tráfico humano, as barrigas de aluguer, a prostituição e a pornografia. É a luta por salários justos e empregos dignos. É a luta contra o capitalismo, a luta por uma nova sociedade onde ninguém conheça a exploração, a injustiça ou a miséria.
Junta-te à Livres e Combativas!
No 25 de Novembro, todas e todos contra a violência machista!