Continuar a luta até derrotar os planos da burguesia e de Bolsonaro
No dia 14 de Junho, o Brasil viveu a primeira greve geral contra o governo de extrema-direita de Jair Bolsonaro. O dia foi uma demonstração da força e da disposição da classe trabalhadora, da juventude e dos camponeses contra os ataques da burguesia e do seu governo.
A greve vence a repressão do Estado e dos patrões
Segundo a Central Única dos Trabalhadores (CUT) — a principal central sindical brasileira e uma das dez a convocar a greve — 45 milhões de trabalhadores pararam total ou parcialmente e centenas de milhares manifestaram-se em pelo menos 380 cidades por todo o país. A greve teve um seguimento massivo no sector público: educação, funcionários, etc..., assim como o sector metalúrgico, a banca, trabalhadores agrícolas, petroleiros... Pararam 10 das 12 refinarias da Petrobras e 19 das 27 capitais de Estado viram os transportes afectados de forma significativa.
A força e amplitude da greve destaca-se ainda mais se tivermos em conta que o governo de extrema-direita e o conjunto da classe dominante recorreram a uma duríssima repressão para fazer fracassar a greve. No metro de São Paulo, a cidade mais populosa da América Latina, houve uma tentativa de cortar o direito de greve dos trabalhadores e estes responderam paralisando uma grande parte do serviço. O mesmo ocorreu no resto dos serviços de transporte, especialmente onde estes estão a cargo de empresas privadas.
A precariedade laboral que, com a desmobilização e a ausência de uma resposta unificada e contínua por parte dos dirigentes dos sindicatos maioritários, se tem estendido de forma espectacular nos últimos anos (com especial intensidade no sector privado), também foi utilizada pelos patrões para ameaçar os trabalhadores e tentar impedir o sucesso da greve.
A actuação dos piquetes e bloqueios de estradas, que se multiplicaram por todo o país, foram a chave para que muitos trabalhadores pudessem aderir à greve. Seguindo a linha do governo central, diferentes governos regionais nas mãos de partidos burgueses, como o PSDB, ordenaram a que as forças policiais sob seu comando reprimissem violentamente os piquetes e realizassem acusações e detenções contra os manifestantes em várias cidades.
Isto demonstra uma vez mais que, apesar de os partidos burgueses tradicionais cinicamente criticarem, em público, alguns excessos da extrema-direita bolsonarista, na hora da verdade, actuam em defesa dos mesmos interesses de classe, contra os direitos dos trabalhadores e do povo. É por isto que é um grave erro defender “frentes democráticas amplas” contra a extrema-direita, como está a defender a direcção do PSOL, chamando sectores da burguesia a participar nessas mesmas frentes.
Polarização política e aumento espectacular da rejeição de Bolsonaro
O agravamento da crise económica, as fugas de informação sobre as manobras e conspirações de um dos homens fortes do governo — o juiz Sérgio Moro, actual ministro da Justiça e Segurança Pública e responsável da investigação Lava Jato — com os procuradores para prender Lula e facilitar a vitória eleitoral de Bolsonaro, os constantes escândalos de corrupção protagonizados pelo seu partido (PSL) e a sua família… estão a aumentar a uma grande velocidade a sua perda de prestígio, mesmo entre uma parte das camadas médias e entre trabalhadores desesperados que votaram nele.
Um mês antes da greve geral, no dia 15 de Maio, estudantes e professores protagonizaram uma mobilização histórica contra os ataques à educação pública em que participaram milhões de pessoas. Reflectindo a polarização existente, a extrema-direita bolsonarista organizou contra-manifestações no domingo, 26 de Maio. No entanto, a tentativa de mobilizar sua base social numa grande demonstração de força para intimidar e travar o movimento estudantil, camponês e operário não chegou nem de perto ao seu objetivo. Participaram os sectores mais anticomunistas e fascistóides, com umas poucas dezenas de milhar de pessoas que, comparadas com a massividade das mobilizações contra o governo, só demonstraram a sua debilidade numa acção que só pode ser descrita como um fracasso estrondoso. Isto confirma a correlação de forças, que neste momento é favorável para que a classe trabalhadora e o povo passem à ofensiva e derrotem o governo. De facto, uma das palavras de ordem mais gritadas nas ruas no 14 de Junho foi “Fora Bolsonaro”.
Tentando parar a luta nas ruas e facilitar à burocracia sindical as justificações para não dar continuidade à luta com uma nova greve geral, deputados dos partidos burgueses, como o PSDB e outros, apresentaram modificações secundárias à contra-reforma da previdência [sistema pensões]. Estas não afectam a essência da contra-reforma. No melhor dos casos, significariam voltar ao ataque às pensões que o governo burguês e golpista de Temer tentou aplicar em 2017 mas que, no fim de contas, não se atreveu a executar devido à greve geral de Abril desse ano, ainda que tenha avançado com a contra-reforma laboral.
Naquele momento não se deu continuidade à greve geral, permitindo-se ao governo de Temer ficar no poder e, posteriormente, abrir o caminho à vitória de Bolsonaro. Como aconteceu anteriormente, os dirigentes das centrais sindicais UGT e Força Sindical mostram-se agora dispostos a negociar sobre a base destas mudanças cosméticas. Diante desta manobra para tentar dividir o movimento, é fundamental continuar a luta nas ruas, como apontado pelos setores do movimento sindical mais à esquerda.
Continuar a luta com uma nova greve geral. Por uma frente unida de esquerda com um programa socialista!
Os dirigentes da CSP-Conlutas e o resto das forças que constituem a esquerda sindical, política e combativa devem impulsionar a organização de assembleias nos centros de trabalho para debater o balanço do 14 de Junho e os próximos passos a dar. Há que propor em todas as assembleias a aprovação de resoluções exigindo às restantes organizações, a começar pela CUT, a convocatória de uma nova greve geral que exija a retirada completa do projecto de contra-reforma da previdência e que incorpore nas suas reivindicações a retirada de todos os outros ataques lançados por este governo reaccionário: contra a educação pública, os direitos democráticos, os direitos da mulher e a comunidade LGTBI, o meio ambiente...
Este movimento tem de apelar aos activistas e militantes da CUT e do PT para que se unam e rompam com as políticas de desmobilização e pactos com a burguesia que seguem os dirigentes reformistas.
Há que impulsionar a criação de comités de luta nas fábricas, nos bairros, nos campos, nos centros de estudo, para que a mobilização nas ruas continue, se unifique e se estenda com um plano de luta que vá mais longe e permita mostrar toda a força que têm a classe trabalhadora, os estudantes, as mulheres e a comunidade LGTBI, os trabalhadores à jorna, os camponeses, os povos indígenas e o conjunto dos oprimidos para derrubar o governo de Bolsonaro.
Além disto, é imprescindível levantar um programa socialista, que defenda a expropriação da banca, dos latifúndios e das grandes empresas sob controlo operário para dispôr dos recursos necessários para garantir a defesa e o aumento das pensões, da educação, da saúde pública, do acesso à habitação, salários e condições de trabalho dignas. Desta maneira seria possível planificar democraticamente a economia em função das necessidades sociais e não dos interesses de um grupo de oligarcas parasitas e corruptos.