Honduras vive nesse momento um dos episódios mais dramáticos da luta de classes na América Central. Desde 2009, quando a população saiu massivamente em repúdio ao Golpe de Estado contra o então presidente Zelaya, não tínhamos presenciado esse nível de mobilização e enfrentamento entre o Estado e a burguesia por um lado, e os trabalhadores, camponeses pobres e indígenas, por outro. O detonador foi a fraude eleitoral cometida pelo Partido Nacional e seu candidato, Juan Orlando Hernández (JOH).

Tanto o Exército, como a polícia têm desatado uma furiosa repressão contra o povo mobilizado, o que deixou um saldo de nove mortos. Mas, essa explosão social não é somente fruto do descontentamento com os resultados eleitorais, mas a consequência de uma crise política, social e econômica profunda que assola há décadas o país centro-americano.

Quando, em 26 de novembro, houve eleições para Presidente da República, um desenlace semelhante era previsível, pois a frustração com o fato de que o atual presidente, Juan Orlando Hernández, do Partido Nacional, pudesse se apresentar como candidato às eleições quando a Constituição não permite a reeleição consecutiva, já tinha gerado um duro enfrentamento entre o povo e o Estado. Também o assassinato de quatro ativistas da oposição, um mês antes das eleições, já predispunha a uma iminente fraude do atual governo frente ao candidato opositor Salvador Nasralla, da Alianza de Oposición contra la Dictadura (Aliança de Oposição Contra a Ditadura).

Por que esta resposta das massas?

A agitação política atual não é um raio em céu azul. A população padece de condições de vida péssimas: 66% vivem abaixo do limiar da pobreza, açoitados pela delinquência de gangues e com o narcotráfico operando livremente. Honduras segue sendo considerado um dos países mais perigosos do mundo, tem um dos maiores índices de desigualdade da América Latina, a maior taxa de desemprego da região e os menores níveis de investimento público. Claro, a corrupção se converteu em uma praga permanente.

No ano de 2015, milhares de hondurenhos se mobilizaram nas ruas durantes semanas para protestar contra o roubo de recursos públicos que afetavam diretamente o setor da saúde e que tinham sido destinados aos gastos de campanha do JOH; agora este setor se encontra totalmente privatizado. Por outro lado, o assassinato da companheira Berta Cárceres em 2016, que se destacou pela sua luta incansável em defesa do meio ambiente e contra projetos que privavam comunidades indígenas da água para beneficiar a oligarquia local e as multinacionais, evidenciou o envolvimento do governo nele. A partir de instâncias governamentais se tentou desviar a investigação do crime, fazendo com que aparecesse como assalto, ou assassinato passional, quando a morte violenta de Berta foi por razões políticas e patrocinada pelo Estado.

Todo esse cenário de miséria, cansaço e raiva é o que tem movido milhares de hondurenhos a gritar basta e exigir a saída de JOH do governo. A audácia da fraude eleitoral é somente a gota d`água. As lutas passadas, que mostraram a necessidade de mudança que não pôde ser concluída, foram uma grande escola de aprendizado. Agora, as massas hondurenhas têm visto na fraude eleitoral uma maneira de descartar este governo reacionário e, apesar da oposição morna de Salvador Nasralla, o movimento de protesto se transformou em uma autêntica rebelião, não só pelo respeito ao voto, mas também por uma mudança radical nas condições de vida da maioria da população. As massas hondurenhas estão demonstrando que não querem mais um governo de empresários, proprietários de terra e narcotraficantes, completamente vinculados com a oligarquia norte-americana.

A direita quer se manter a todo custo

As mobilizações têm sido massivas, desafiando abertamente as medidas de exceção e as restrições aos direitos democráticos decretados pelo governo. Claro, a direita respondeu com todo o seu arsenal à moda antiga, não somente declarando o toque de recolher desde as 18h até as 6h, mas também dando carta branca ao Exército e à polícia para reprimir qualquer manifestação que questione as instituições e altere a ordem estabelecida. As mobilizações se intensificaram desde a quarta-feira passada, quando, de maneira descarada, o Tribunal Superior Eleitoral fingiu um apagão para reverter os resultados e colocar JOH à frente de Nasralla, quando este liderava as eleições desde o dia das eleições. A evidência de uma fraude clara inflamou mais as massas. Começaram a se dirigir às ruas de maneira massiva, exigindo fazer valer a vontade do povo.

Embora Nasralla faça discursos em apoio ao povo e diga se manter firme contra a ditadura e a corrupção, sua política de pacto, acordos e zero questionamento ao capitalismo hondurenho resultam em uma política fraca, deixando o caminho aberto ao ataque da burguesia. A única forma de vencer a direita e os capitalistas é com a luta nas ruas e com um ousado programa socialista, que unifique a classe trabalhadora e todos os oprimidos do país.

Os empresários, através do Conselho Hondurenho da Empresa privada (COHEP), dizem ter perdido milhões devido a atos de violência e vandalismo e que demorarão anos para se recuperar dessa crise. Como sempre, essas declarações não são senão um descaramento, porque os que levaram a esta crise foram eles, com suas políticas vorazes de privatização, submissão ao imperialismo, opressão e saqueio da riqueza gerada pelo trabalho do povo dia a dia.

A força da classe trabalhadora

Repudiamos completamente a repressão ao povo hondurenho, exercida não só pelo governo de Honduras, mas também por todos os seus aliados, como a União Europeia, a OEA e o governo dos Estados Unidos, que tem o controle firme dos recursos da região. Todas as organizações internacionais que se definem como “humanitárias e neutras” estão apoiando a repressão, pois sua única função é a de proteger os interesses da oligarquia e do imperialismo. Apesar das declarações dos líderes da Alianza (Aliança), não podemos confiar nessas instituições, e não será seu apoio que nos fará batalhar. Nenhuma confiança nas organizações internacionais, no imperialismo, nas suas leis, ou nos seus tribunais.

O heroísmo dos trabalhadores hondurenhos está mais do que demonstrado na resistência a todas as medidas repressivas, autoritárias, assassinas e antidemocráticas de JOH, do Partido Nacional e das organizações patronais. Demonstra, sem dúvida, que existe força para aumentar os protestos e fazer retroceder as forças repressivas, como se viu novamente nas manifestações massivas no domingo, 3 de dezembro. Essa força também deixou abalado o Estado hondurenho, que tenta legitimar sua recontagem com observadores da Oposição; a pressão é tão grande que também a OEA e a UE recomendaram a recontagem de 100% dos votos.

A mobilização exemplar do povo hondurenho deve servir para dar um passo decisivo na luta para transformar o país a serviço dos explorados. É necessário estabelecer uma coordenação nacional, democrática e representativa de todas as organizações sociais e partidos da esquerda que estão na vanguarda desta luta. E essa estrutura nacional deve pôr em marcha um plano de ação unificado, capaz de continuar os protestos, mantê-los ao longo do tempo e intensificá-los até chegar a uma Greve Nacional em fábricas, empresas, no campo, pequenos comércios, transportes e universidades.

A luta contra esta infame fraude eleitoral tem como antecedentes todas as batalhas populares dos últimos anos, em Honduras, na América Latina e em muitas partes do mundo. Para o povo e os trabalhadores hondurenhos, há apenas uma solução: acabar com o capitalismo e construir uma nova sociedade, uma sociedade para todos, uma sociedade socialista.

Fora JOH e o imperialismo! Viva a luta do povo de Honduras!

 

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