A Comunidade Autónoma do País Basco (CAPV, Comunidad Autónoma del País Vasco) tem sido de palco de grandes mobilizações da juventude e classe trabalhadora nos últimos anos, em resposta aos ataques do governo autonómico de coligação entre o Partido Nacionalista Basco (PNV) e o Partido Socialista de Euskadi (PSE). O PNV é o maior e mais velho partido independentista, mas as suas políticas, principalmente no último mandato, denunciam-no como um partido da burguesia basca, que destrói direitos laborais e facilita a precariedade, incentiva privatizações, e corta pensões. Ao integrar o governo, o PSE, que é o PSOE (Partido Socialista Obrero Español) no País Basco, tem participado activamente nestas políticas, indo até às últimas consequências na defesa dos interesses da burguesia.
Sintomático disto mesmo foi a posição adoptada pelo PSE quando, a 6 de Fevereiro, um deslizamento de toneladas de lixo de um aterro em Zaldibar matou dois trabalhadores e levantou gases tóxicos para a atmosfera que puseram em perigo a saúde de 50.000 habitantes na região. Tentando encobrir o PNV, que privatizou a lixeira e ignorou todas as irregularidades que levaram à tragédia, o PSE, que ocupava a pasta do governo do Meio Ambiente, assegurou que a qualidade do ar era boa. Tão-somente 4 dias depois, veio a saber-se que as quantidades de alguns elementos tóxicos no ar estavam 40 a 50 vezes acima do normal e seguro.
A juventude basca também não escapou aos ataques do governo. Para além de enfrentarem os projectos estatais para uma educação de cariz franquista — avançados pelo governo do Partido Popular —, como a LOMCE (Ley orgánica para la mejora de la calidad educativa) ou o decreto 3+2, que buscam excluir os estudantes de classe trabalhadora do ensino superior e tornar ainda menos democrática a gestão das instituições de ensino, os estudantes bascos ainda enfrentam o projecto “Heziberri 2020” do PNV, que permite a entrada de empresas na gestão das instituições de ensino, abrindo caminho à sua privatização. O Ikasle Sindikatua (Sindicato de Estudantes no País Basco) tem encabeçado as lutas contra estes projectos, assim como as mobilizações para as marchas de 8 de Março e para as greves climáticas, ganhando grande autoridade enquanto organização política.
A classe trabalhadora tem respondido a estas ofensivas com grandes mobilizações dos sectores privatizados e precarizados e dos pensionistas. Esta enorme pressão empurrou a maioria sindical basca, composta pelos sindicatos mais combativos, o maior dos quais Eusko Langileen Alkartasuna (ELA), a adoptar uma posição de confronto com o PNV, que culminou com uma greve geral no dia 30 de Janeiro do ano corrente. Esta greve foi um ponto de inflexão no processo das lutas, apresentando uma alteração tanto quantitativa como qualitativa em relação à greve geral anterior, que se deu mais de seis anos antes: desta vez foram criados 170 comités de greve levando trabalhadores de 1.500 empresas a juntar-se à greve, fazendo com que o número de manifestantes quase duplicasse, chegando a 145.000.
O Euskal Herria Bildu (EH Bildu), também chamado de Izquierda abertzale, composto por grupos independentistas de esquerda que se agruparam em 2012, foi o único partido da esquerda parlamentar a mobilizar para a greve, como tem acontecido em relação às grandes mobilizações dos pensionistas, do movimento feminista e em defesa dos direitos dos presos bascos e pela liberdade dos jovens de Altsasu, encarcerados há 4 anos sob falsas acusações de terrorismo apenas devido a uma rixa de bar com elementos da Guardia Civil. Ainda que a direcção do EH Bildu esteja longe de concluir que a luta pelo socialismo e pela auto-determinação é a mesma, tomou a iniciativa de abordar o SE para assinar um acordo eleitoral pela revogação dos projectos educativos reacionários e em defesa de um ensino público, gratuito e democrático, assim como contra a austeridade e pelo financiamento da saúde pública, entre outras medidas.
Já o Podemos no País Basco, Elkarrekin Podemos (E-Podemos), posicionou-se contra a greve geral. Depois de ter tido 29% dos votos nas eleições de 2016, com um programa que defendia o direito à auto-determinção e se apoiava na mobilização social contra o regime de 78, a sua oposição à luta do povo catalão e às mobilizações dos últimos 4 anos evidenciam uma viragem à direita em apoio ao governo que só tem reduzido a sua base social. Em Dezembro do ano passado, os dirigentes do E-Podemos congratulavam-se com a “responsabilidade” demonstrada na sua aprovação de um orçamento de cortes na educação e na saúde, além de um aumento das verbas do PNV em detrimento do próprio E-Podemos.
Resultados das eleições: direita cai e EH Bildu cresce
As eleições para o parlamento da CAPV realizaram-se no passado 12 de Julho neste clima de grande polarização social, o que se reflectiu nos votos do PNV e do EH Bildu, 38,76% e 27,58% respectivamente.
A votação conjunta da esquerda parlamentar (EH Bildu, E-Podemos e PSE) é de 442.316 votos, portanto, 26.687 votos acima da direita basca e espanhola. Dentro desta votação, destaca-se o crescimento do EH Bildu, a única força que aumenta em número de votos, ganhando 23.516 em comparação com as eleições anteriores. Já o E-Podemos é severamente punido pela sua viragem à direita — que o torna indistinguível da social-democracia tradicional, especialmente desde a sua entrada no governo estatal —, passando de 157.334 votos e 11 deputados para 71.759 votos e 6 deputados. Nem o estratagema de última hora do E-Podemos de formar um governo com o PSE e EH Bildu soou convicente. O PSE, convertido num mordomo do PNV, apesar de ganhar 1 deputado, perde 4.551 votos.
A direita tradicional — PP e Ciudadanos coligados — segue o rumo dos últimos anos a perde 68.949 votos e 4 deputados, ficando apenas com 5 deputados, o pior resultado da história do PP basco. Já o PNV ganhou 3 deputados, mas apenas devido a um maior nível de abstenção. Na verdade, perdeu 48.739 votos, mesmo ganhando com o voto de camadas tradicionalmente do PP que encontraram no PNV um instrumento mais útil para combater o EH Bildu.
Em defesa de um programa revolucionário
A classe trabalhadora claramente deu o seu voto a um discurso posicionado à esquerda da social-democracia e que desafiou a direita basca muito mais ousadamente do que no passado. Se o EH Bildu aprofundar este caminho em todas as suas posições institucionais, nos municípios que governa e, acima de tudo, se impulsionar a mobilização social e a organização da classe trabalhadora, os 100.000 votos que os separam do PNV podem ser facilmente reduzidos. Mas aqui não se trata de habilidade no trabalho institucional, é uma questão de dobrar socialmente a direita basca e romper abertamente com qualquer possibilidade de chegar a acordos que, na melhor das hipóteses, terminam em traição.
Seguir o caminho que o Elkarrekin Podemos escolheu não é uma solução. Já foi demonstrado claramente onde termina: do lado do regime 78. A única maneira de acabar com a precariedade laboral, os cortes e a repressão é através da luta nas ruas, organizando a classe trabalhadora nas fábricas, nas instituições de ensino e nos bairros. Foi assim que conquistámos todos e cada um de nossos direitos.
É necessário construir uma organização revolucionária que reivindique abertamente o direito à auto-determinação e o vincule ao combate por uma política de classe. Devemos levar o programa da revolução socialista à luta sindical, estudantil, feminista, ecologista ou anti-racista. Sob a bandeira do socialismo e internacionalismo revolucionários, temos um mundo inteiro a ganhar. Essa é a bandeira que defende a Ezker Iraultzailea — Esquerda Revolucionária no País Basco.