Já o dissemos: Rubiales era apenas a ponta do iceberg e estes últimos dias foram uma grande demonstração disso. Depois do comunicado oficial de 15 de setembro assinado por 39 jogadoras que solicitaram não serem convocadas para os próximos jogos caso não haja uma alteração real na Real Federação Espanhola de Futebol (RFEF), a nova selecionadora Montse Tomé tornou pública a lista das futebolistas convocadas para a Liga das Nações. E para meter sal na ferida, o nome de Jenni Hermoso não aparece em lado nenhum. Porquê? Bem, segundo Tomé, porque “achamos que a melhor forma de protegê-la é assim”. Como a própria jogadora de futebol questionou num novo comunicado, protegê-la de quê ou de quem?
A situação é clara. O novo staff da Seleção Feminina afasta Jenni Hermoso em retaliação por ter tido a coragem de denunciar uma agressão sexual e porque a solidariedade que o seu caso suscitou é intolerável para a máfia corrupta que continua a dirigir a Federação Espanhola de Futebol. O que Jenni e as restantes jogadoras precisam é da garantia de que nunca mais terão que passar por uma situação semelhante de violência e que os responsáveis por esse ambiente machista, brutalizado e autoritário sejam imediatamente expulsos dos seus postos e cargos.
Enquanto Livres e Combativas queremos mais uma vez transmitir a nossa solidariedade a Jenni Hermoso. Estamos contigo e não permitiremos que tentem calar-te!
Nem feminista nem democrático: o PSOE está do lado dos Rubiales
Depois da vergonhosa conferência de imprensa de Montse Tomé, pelo menos 15 das 23 jogadoras incluídas na primeira lista apresentada insistiram que não queriam ser convocadas. Esta não é uma birra que se esquece em dois dias. As jogadoras levam muito a sério as suas exigências. Até porque se desistirem de jogar pela Seleção Nacional, conforme estipula a Lei do Desporto, podem ser sancionadas com multas até 30 mil euros e ter a licença da Federação suspensa de dois a quinze anos. Que lei desportiva mais democrática! Esmagar as jogadoras que lutam pelos seus direitos e deixar impune um sexista e agressor como Rubiales.
Se tudo isto já não é suficiente, o PSOE decidiu colocar mais lenha na fogueira. Parece que eles não se cansam de protagonizar episódios vergonhosos e de cuspir na cara de todas as mulheres que ficam horrorizadas com o que este caso significa.
Víctor Francos Díaz, presidente do Conselho Superior do Desporto – órgão público vinculado ao Ministério da Cultura e Desportos, ou seja, dependente do Governo – ousou dizer em entrevista ao SER que é “vincadamente a favor das jogadoras” mas (atenção aos argumentos que surgem agora!) que “não sei porque é que houve um conflito”, que “é incapaz de saber” porque “absolutamente nada chegou ao Governo". É muito difícil compreender se este homem é muito estúpido ou se pensa que somos completos idiotas. Basta ler a imprensa e as declarações das jogadoras.
Mas a baixeza não termina aqui. Porque depois de ter dito que “não sabia de nada” (aqui ninguém sabe de nada e nunca se podem tomar medidas contundentes!), Víctor Francos veio defender que a convocatória foi acordada entre a selecionadora e as jogadoras, o que se viu que é mentira!, e lembrou o que acontecerá se não aparecerem: o Governo terá de aplicar a lei, porque a lei é a lei e está acima de tudo. Isto é, a “solidariedade feminista” do PSOE nada mais é que uma postura mesquinha. Quando as jogadoras lutam pelos seus direitos, os dirigentes do desporto espanhol do Ministério chefiado pelo senhor Iceta não têm outra política senão a repressão e a chantagem às atletas, no mais puro estilo Rubiales, para as calar de uma vez por todas.
Ainda bem que é o governo mais feminista da história! Dá vómitos. Esta é a democracia do regime de 78: coerção e armadilhas vindas de cima. É por isso que o grito de “¡se acabó!” incomoda tanto, incluindo o PSOE. Porque não só aponta a terrível violência sexual que as mulheres sofrem, mas também questiona todos os mecanismos que existem no sistema capitalista para que nada mude.
O PSOE apresenta-se mais uma vez como guardião dos privilégios e dos negócios de todos aqueles que participam neste charco criminoso e patriarcal que é o mundo do desporto: empresários, futebolistas, diretores de canais de televisão... Enquanto isso, o movimento feminista combativo levanta a sua solidariedade, a verdadeira, e dizemos: aqui estão as vossas camaradas, estamos ao vosso lado e continuaremos a lutar para que todos eles caiam.