Vários grupos neonazis e de extrema-direita preparam uma marcha — com archotes ao estilo fascista — pelas ruas do Martim Moniz e da Mouraria, em Lisboa, para o dia 3 de fevereiro.
A escalada de agressões racistas, xenófobas e lgbtifóbicas da extrema-direita não parou de aumentar nos últimos meses. Quase todas as semanas há casos de imigrantes que são espancados, assaltados ou assassinados.
Isto explica-se pela impunidade de que gozam estes fascistas que sentem as costas quentes com o crescimento do Chega e com a conivência do poder político e judicial.
Não esperar nada do Estado burguês e das suas instituições
Esta marcha, que está a ser publicitada como uma marcha anti-islâmica e anti-imigração, é obviamente uma provocação e uma tentativa de intimidação contra os imigrantes, em particular os provenientes do Hindustão que estão entre os mais explorados e vulneráveis. Este é um ataque a todos os imigrantes, mas também a todos os grupos oprimidos.
No entanto, esta marcha não levantou qualquer problema às instituições “democráticas”. Para o Ministério da Administração Interna, para a PSP ou para a Câmara de Lisboa é perfeitamente normal e aceitável que um bando de fascistas queira marchar precisamente por este bairro.
Um tratamento bem diferente se compararmos com a repressão sofrida pelos ativistas estudantis pelo clima ou a perseguição que é movida a organizações pró-Palestina. E é por isto mesmo que estes energúmenos se sentem confiantes e avançam cada vez mais para as ruas às claras. Sentem, e não sem razão, que o Estado está com eles.
De que servem as declarações dos dirigentes políticos, como o Presidente da República, de que Portugal sabe acolher os imigrantes quando, no concreto, estes são marginalizados, super-explorados, escravizados e se deixa a extrema-direita sair à rua para os intimidar e atacar?
O Governo também tem a boca cheia de palavras vazias. A sua política nos últimos anos tem sido a de ignorar a escravatura de imigrantes na agricultura e as suas condições de habitação insalubres — que também são a norma nas principais cidades — e a dificuldade do acesso à nacionalidade e a outros direitos.
De que serve apelar para a Lei ou a Constituição quando os tribunais e as polícias estão pejados de elementos de extrema-direita que partilham da mesma ideologia xenófoba e racista? Defendem assassinos neonazis e condenam ativistas anti-racistas ou a própria polícia é quem ataca os imigrantes, como se viu no caso de Odemira, e naturalmente saem impunes.
A retórica nacionalista e xenófoba joga um papel neste sistema que é o de colocar os trabalhadores uns contra os outros para assim dificultar a nossa união contra quem nos explora. Por isso mesmo a retórica racista, machista, lgbtifóbica é tolerada e legitimada diariamente na comunicação social e no discurso político.
O fascismo não se discute, combate-se nas ruas
Uma e outra vez, e outra, as figuras e instituições do Estado mostram que não podemos contar com elas. A única forma e meios que podemos confiar é na nossa organização e luta. Nenhuma organização de esquerda pode ficar em silêncio perante uma situação destas. É criminoso. Só recorrendo à mobilização mais contundente da juventude e da classe trabalhadora é que conseguiremos defender os nossos bairros e travá-los.
Não podemos permitir que a extrema-direita continue a ocupar as ruas e a atacar-nos. Lado a lado, trabalhadores e jovens, imigrantes ou não, temos de mostrar a esses fascistas que somos mais do que eles, que as ruas são nossas e que não temos medo. Nem um passo atrás!
Apelamos a que os coletivos anti-racistas, anti-fascistas e organizações de esquerda, como o BE e PCP, se associem e divulguem massivamente o protesto contra estes fachos que está já a ser preparado por um conjunto de ativistas e pelos vizinhos da Rua do Benformoso.
Nenhuma agressão sem resposta!
Fascismo nunca mais!