É preciso aproveitar a força e solidariedade demonstradas para expandir a greve!

No passado dia 14 de março, realizou-se uma greve geral dos jornalistas de 24 horas. A adesão foi formidável, contando-se mais de 40 órgãos de comunicação paralisados, segundo o comunicado do Sindicato de Jornalistas, que convocou a greve.

Esta greve decorre no seguimento do movimento dos trabalhadores do Grupo Global Media – proprietário de vários organismos de comunicação social portugueses – que têm vindo a resistir à reestruturação que ameaça os seus empregos e aumentar a sua precariedade. Foi dos seus protestos, e da solidariedade para com os colegas de profissão, que esta greve geral surgiu. À medida que os protestos revelaram a extensão dos problemas sofridos pelos jornalistas – os salários baixos que não acompanham a inflação, a precariedade e a degradação das condições laborais – o mote da greve geral ergueu-se e foi puxado pelos trabalhadores, arrastando consigo os seus sindicatos. Em janeiro, no 5º Congresso dos Jornalistas, 500 jornalistas votaram a favor da greve geral por unanimidade.

Trata-se de uma greve histórica, a primeira greve geral dos jornalistas em Portugal desde 1982, e da greve geral de cinco dias que tinha sido planeada para 1983, mas que nunca se chegaria a concretizar, com os patrões aceitando aumentos salariais de 19%.

Quatro décadas depois, a greve geral foi anunciada por 24 horas, começando à meia noite de dia 14, com um anúncio na Antena 1. Daí, o impacto foi-se revelando, à medida que ao longo da manhã, a agência Lusa, a rádio pública, o Diário de Notícias e outras demais redações se viram paralisadas. Ao fim do dia de greve, o Sindicato de Jornalistas pôde documentar 47 organismos paralisados, outros 15 sofrendo de perturbações ao seu serviço, e 11 outras entidades que, em solidariedade, tinham parado o trabalho.

Várias redações viram-se completamente desertas, com adesão total à greve. Noutras, a adesão foi também muito significativa, como no caso da Visão, com adesão de 90%, ou o Jornal de Notícias e o Público, com adesões de 83%.

Notável também foi a adesão massiva da imprensa regional, que o Sindicato de Jornalistas admite ter sido “essencial para o enorme sucesso da greve”. Em várias delegações de Coimbra, Castelo Branco, Guarda e Évora, a adesão foi total, e correspondentes internacionais em Madrid, Paris e Rio de Janeiro também se juntaram aos seus colegas em greve.

Ao longo do dia, realizaram-se também concentrações de jornalistas, em Lisboa, no Porto, Ponta Delgada, Coimbra e em Faro, organizadas pelo sindicato, para além de duas concentrações espontâneas, em Viseu e em Évora.

Esta adesão massiva, e o impacto que teve em várias redações, foi uma vitória importante, contra chefias que se anteciparam para tentar combater a greve, antecipando convites para programas, trocando turnos para evitar faltas de prováveis grevistas, e reforçando turnos para atenuar o impacto da paralisação. Todos estes esquemas dos patrões para frustrar o exercício do direito à greve – um ataque aos direitos dos trabalhadores – falharam perante a força da solidariedade grevista.

A greve de 14 de março representa uma vitória fundamental para os jornalistas portugueses. A força da sua resiliência e da sua solidariedade conseguiu ser sentida. O seu sucesso, perante os ataques patronais e perante a hesitação sindical, demonstra a força e raiva sentida pelos seus profissionais contra o seu empobrecimento e precarização. Mas só pode ser entendida como um primeiro passo para resolver a crise da sua profissão.

É preciso começar a planear já o próximo passo – a próxima ofensiva. Não nos podemos limitar a uma greve de 24 horas. Em 1983, a ameaça de cinco dias de greve bastou para forçar os patrões a aceitar um aumento salarial de 19%. Seguir neste sentido, expandir a greve, tanto em duração como em número de empresas abrangidas, construindo-a a partir da base, em assembleias e plenários, é fundamental para conseguir replicar tal vitória hoje.

Os exemplos de 1982, de 1983 e de 14 de março devem servir como inspiração de força – de que uma vitória dos jornalistas é possível!

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