Nos dias 8, 9 e 10 de dezembro, com a participação de mais de 220 camaradas do Estado espanhol, Portugal, Alemanha, México e Venezuela, celebramos o terceiro congresso da Esquerda Revolucionária Internacional.
O encontro deste ano teve um significado especial. Após sete meses de obras e muito trabalho, realizamos o nosso Congresso no Espaço Rosa Luxemburgo. Com mais de 350 metros quadrados e com todos os avanços técnicos e visuais, este novo Espaço está pronto para abrigar a livraria da Fundación Federico Engels, debates políticos, escolas de formação marxista, apresentações de livros, concertos e uma atividade cultural diversificada e intensa.
No próximo dia 27 de janeiro iremos inaugurá-lo publicamente com um grande evento e uma festa para celebrá-lo em grande estilo juntamente com o sindicalismo de classe e combativo, o movimento feminista e a juventude antifascista, e grupos e movimentos sociais de Madrid e de todos os territórios do Estado espanhol
Dias de discussão e militância
Durante estes três dias intensos e emocionantes debatemos perspectivas políticas internacionais e apresentamos relatórios dos diferentes países e frentes da luta de classes em que participamos diariamente. Com mais de 42 intervenções de delegados e convidados, abordamos e analisamos em profundidade os principais acontecimentos políticos, económicos e militares que afetam o capitalismo global.
As relações internacionais estão a sofrer uma mudança sem precedentes desde a queda da URSS. O confronto inter-imperialista pela hegemonia, a derrota que os EUA e a União Europeia estão a sofrer na guerra na Ucrânia e o brutal genocídio sionista perpetrado contra o povo palestiniano em Gaza são exemplos de um mundo em turbulência e mergulhado num caos violento.
A agressividade do imperialismo estado-unidense que tenta manter a sua posição dominante é a maior fonte de instabilidade global, o que não impede Washington de continuar a recuar em todas as frentes. No domínio económico, a força da China está a consolidar-se, disputando a liderança da globalização e fortalecendo os laços comerciais com uma infinidade de países em todo o planeta. Entretanto, a influência dos Estados Unidos e a sua capacidade de impor a sua agenda estão a enfraquecer e o país enfrenta obstáculos cada vez mais importantes, em conjunto com uma situação interna catastrófica.
A guerra da Ucrânia é uma boa prova disso. Washington usou o governo reaccionário de Zelensky para tentar cercar a Rússia, o principal aliado da China, parar e minar os laços económicos estabelecidos entre o regime de Putin e a Europa e meter na linha a Alemanha e com ela toda a UE. Após quase dois anos de conflito e dezenas de milhares de milhões de dólares doados ao regime de Zelensky, com a UE dividida e enfraquecida e com a Alemanha atolada numa grave recessão, os planos do imperialismo estado-unidense fracassaram.
A derrota da Ucrânia é cada vez mais evidente. A Rússia controla 20% do território ucraniano e continua a crescer o número de vozes que insistem que ambas as partes cheguem a um acordo que ponha fim às operações militares e que na prática sancione esta situação. Este novo revés para a Casa Branca terá repercussões ainda maiores do que as sofridas no Afeganistão e no Iraque.
O capitalismo é um horror sem fim. Genocídio em Gaza e ascensão da extrema direita
A sessão da manhã de sábado foi dedicada à luta pela libertação nacional e social da Palestina e ao genocídio que o Estado sionista está a cometer em Gaza.
Uma extensa introdução abordou a formação do Estado de Israel em 1948, o papel criminoso do imperialismo estado-unidense e britânico, e também da burocracia estalinista russa pelo seu patrocínio de uma acção que envolveu uma limpeza étnica brutal contra o povo palestiniano, e o cancro da opressão nacional imposta pelo colonialismo sionista durante décadas.
A abordagem marxista e leninista não pode ignorar a traição dos regimes burgueses árabes à causa palestiniana e a sua necessária colaboração com o imperialismo ocidental e o sionismo. A aceitação dos desastrosos acordos de Oslo permitiu à burguesia israelita consolidar o seu regime criminoso, e também expôs a burguesia árabe e palestiniana, que aceitaram este quadro para construir grandes empresas e continuar a manter o território de Gaza e da Cisjordânia num apartheid sangrento.
O novo massacre em Gaza, que está a ocorrer com a aprovação dos EUA, do Reino Unido e da União Europeia, é o resultado de todos estes planos traçados pela chamada Comunidade Internacional e que permitiram que o actual governo supremacista e de extrema-direita de Netanyahu agisse com total impunidade. Pelo seu lado, nem os governos árabes corruptos nem o imperialismo chinês levantaram um dedo para deter Israel, enquanto a ONU mostra mais uma vez a sua impotência e a sua absoluta incapacidade de deter esta atrocidade.
Como comunistas revolucionários defendemos o direito do povo palestiniano de responder à máquina de guerra sionista com luta de massas, greve geral e autodefesa armada. Mas a libertação da Palestina é impossível sem a revolução socialista, sem derrubar o Estado Sionista e a burguesia israelita e árabe. A luta por uma Palestina socialista, que reconheça todos os direitos democráticos das suas comunidades nacionais, é incompatível com o fundamentalismo integrista e com regimes ditatoriais e teocráticos como o Irão dos Mulás. A ofensiva do Hamas, independentemente das suas intenções, beneficiou Netanyahu e fortaleceu ainda mais a extrema-direita sionista.
Neste debate destacamos também a política internacionalista da Esquerda Revolucionária e do Sindicato de Estudiantes, as manifestações e greves estudantis que promovemos e organizamos contra o genocídio sionista. Um movimento de solidariedade que não para de crescer em todo o mundo, inclusive nas nações imperialistas do Ocidente, e que é fundamental para derrotar a ofensiva militarista e genocida de Netanyahu.
Outro aspecto ao qual prestámos muita atenção nas sessões do congresso foi a ascensão da extrema-direita, consequência da aguda polarização social e política que atravessa o sistema capitalista e da profunda crise da democracia burguesa, e que representa uma ameaça gravíssima para a classe trabalhadora e para os direitos democráticos e sociais conquistados.
Trump, Bolsonaro, Milei, as organizações de extrema-direita na Europa, etc., que têm ligações importantes com o aparelho de Estado e alcançaram um apoio significativo entre as classes dominantes dos seus respectivos países, estão a conseguir agrupar sobretudo na frente eleitoral uma grande parte da pequena-burguesia e sectores especialmente desmoralizados e politicamente atrasados da classe trabalhadora.
Num cenário em que a social-democracia tradicional está decididamente empenhada na defesa dos interesses do capital, e quando a nova esquerda, surgida na maioria dos casos de grandes mobilizações de massas, falhou ao mimetizar esta social-democracia na procura de um capitalismo com rosto humano, a extrema-direita reforça as suas posições e amplia a sua demagogia populista, sexista, racista e classista.
Sem exagerar, sem subestimar a enorme força objectiva da classe trabalhadora e da juventude, a luta contra a extrema-direita e a reacção não é um aspecto secundário. A luta contra o fascismo será resolvida pela capacidade da vanguarda proletária de construir uma organização revolucionária comprovada com influência real entre as massas.
Construindo a Esquerda Revolucionária
A tarde de sábado e a manhã de domingo foram dedicadas aos extensos relatórios que numerosos camaradas fizeram sobre a nossa intervenção nas grandes frentes da luta de classes.
Na Izquierda Revolucionaria do Estado espanhol participamos e promovemos com todas as nossas forças o movimento contra o genocídio em Gaza, com as greves estudantis organizadas pelo Sindicato de Estudiantes e participando e organizando dezenas de manifestações em todo o Estado. Os camaradas portugueses, venezuelanos, mexicanos e alemães também têm estado na linha da frente nesta luta. Especialmente inspirador foi poder ouvir a experiência dos nossos colegas alemães e a batalha que travamos contra a repressão desencadeada pelo Estado e pelo Governo alemão contra as ações de solidariedade com o povo palestiniano.
A luta de classe feminista e revolucionária contra o machismo, os feminicídios e a lgtbifobia continuou a ser uma das principais frentes de ação de todas as secções da ER Internacional. A nossa plataforma Livres e Combativas que já conquistou grande autoridade no Estado espanhol, também deu passos importantes noutros países como Portugal e México.
É claro que a luta sindical tem sido um dos nossos campos de batalha em que investimos mais energia e força, participando e liderando numerosos conflitos laborais. No México, participando nas lutas dos professores por direitos democráticos; na Venezuela, nas difíceis condições geradas pela contrarrevolução burocrática e capitalista, incentivamos a luta laboral dos trabalhadores da transnacional MMC Automotriz SA, dos trabalhadores do Governo do Estado de Anzoátegui e de outros conflitos; na Alemanha destaca-se a intervenção dos nossos camaradas nas greves e manifestações dos trabalhadores do Porto de Hamburgo e nas greves do sector público; em Portugal, a luta por uma habitação digna e acessível está a ter um forte impacto político e social.
Todas as nossas seções têm uma composição claramente trabalhadora. Não falamos da boca para fora, nem em nome de um proletariado que só é conhecido por fotografia. É por isso que no Estado espanhol fazemos parte das principais mobilizações e greves da nossa classe, e conseguimos dar passos relevantes nas nossas posições sindicais, desde sermos eleitos para a presidência do comité de empresas logísticas GXO Marchamalo 1, o maior da província de Guadalajara com 2.000 trabalhadores, aos formidáveis avanços da CGT no comité de empresa do estaleiro Navantia Ferrol, e no qual os quadros e militantes da Izquierda Revolucionaria têm desempenhado um papel de liderança.
Este crescimento das nossas forças militantes e da nossa influência, em qualidade e quantidade, tem sido apoiado por finanças revolucionárias que nos permitem total independência política, dos esforços feitos para produzir regularmente os nossos jornais, El Militante, Militant, Euskal Herria Sozialista, A Centelha, Offensiv…, com um trabalho incansável no domínio da teoria e a publicação de mais de mil artigos nos nossos sites no último ano, com dezenas de novos livros publicados pela Fundación Federico Engels, destacando o esforço dos camaradas portugueses e alemães que continuaram a expandir o seu catálogo de clássicos marxistas em português e alemão.
O clima de entusiasmo, confiança e determinação em continuar a construir as forças do comunismo revolucionário refletiu-se numa magnífica contribuição financeira de 22.000 euros dos militantes da Internacional que assistiram, valor que aumentará nas próximas semanas quando forem divulgadas as conclusões do Congresso a todos os camaradas.
O desenvolvimento deste período turbulento está a testar todas as organizações, incluindo a nossa, e temos total confiança de que seremos capazes de enfrentar o desafio.
Esta é a hora de tomar partido sem hesitações, de construir as forças do marxismo entre a classe trabalhadora e a juventude com determinação e vontade.
Viva o comunismo revolucionário e internacionalista! Junta-te à Esquerda Revolucionária!