O presente texto serve para esclarecer e evitar deturpações daquilo que foi a actividade dos camaradas do Socialismo Revolucionário (SR) — os que permanecem no Bloco de Esquerda (BE) e os que foram expulsos — na campanha para as últimas eleições autárquicas.
Como sabem, somos um grupo pequeno, com uma capacidade de trabalho local ainda limitada, e decidimos por isso dedicar grande parte dos nossos esforços à zona de Benfica, em Lisboa, onde temos alguns camaradas activos no núcleo do BE.
Fomos para Benfica com a noção de que teríamos de abordar milhares de trabalhadores para dar mais um passo na construção de uma alternativa à esquerda, apoiados pela mobilização e organização de quem trabalha e vive na freguesia. Fizemos apelo, por isso, ao voto no programa do BE, destacando importantes medidas na luta pelo trabalho com direitos, por transportes públicos de qualidade e habitação digna, conversando porta-a-porta com todos aqueles que aceitaram ouvir as nossas propostas. Para cumprir essa tarefa política contámos com panfletos e jornais.
Numa primeira fase, contactámos a Mesa Nacional - o órgão máximo do BE entre convenções - para a informar desta intenção e para pedir autorização na utilização do material oficial do BE. Na resposta, dada pela Comissão Política, foi-nos recusado o uso de qualquer material oficial da campanha. Apesar desta resposta, mantivemos a nossa actividade independente em apoio ao BE, utilizando panfletos próprios e com a nossa identificação clara. No início da campanha, comunicámos publicamente os nossos objectivos e métodos. Em conjunto com a publicação do panfleto, divulgámos um apelo financeiro explicitando os nossos objectivos políticos e os fundos necessários para os cumprir — tal deveu-se à nossa convicção de que uma organização de trabalhadores não pode depender de financiamento estatal ou privado, mas somente das contribuições dos seus próprios membros e do apoio de jovens e trabalhadores.
Para esta campanha utilizámos um método antigo da esquerda militante, extremamente eficaz no diálogo amplo e directo com os jovens e trabalhadores: a abordagem porta-a-porta. Sabemos que não basta colocar panfletos nas caixas de correio.
Este contacto permitiu-nos ter uma ideia muito mais precisa do trabalho que temos de desenvolver localmente, da consciência da classe trabalhadora e da sua recepção ao programa do BE. A nossa abordagem no porta-a-porta deixou sempre claro quem somos e quem apoiamos — apresentámo-nos como colectivo Socialismo Revolucionário, apelámos ao voto no Bloco, nunca escondendo a filiação de muitos de nós no próprio partido.
O nosso panfleto não deixa dúvidas quanto à independência do SR relativamente à campanha oficial do Bloco. Importa também dizer que, tal como qualquer outra intervenção, pedimos donativos que nos possibilitem manter uma actividade combativa e próxima dos trabalhadores, e vendemos exemplares d’A Centelha enquanto publicação oficial do Socialismo Revolucionário — que não oferece qualquer hipótese de ser confundida com uma publicação do BE.
O resultado da nossa intervenção foi extremamente positivo. Recebemos, da parte da classe trabalhadora — em particular entre a juventude — de Benfica, uma boa recepção ao programa do BE e às nossas próprias propostas, o que se reflectiu nos contactos que estabelecemos por parte de quem queria organizar-se enquanto morador de Benfica na luta por transportes de qualidade, trabalho com direitos e habitação para todos. Pensamos que a recepção positiva se pode verificar até mesmo nos resultados eleitorais.
Na reunião da Coordenadora Concelhia de Lisboa (04.10.2017), a cabeça de lista para Benfica, a camarada Joana Grilo, confrontou o SR classificando a actividade acima descrita como burla, dizendo que nos fizémos passar pela campanha oficial do BE, que vendemos “livros” enquanto publicações do Bloco, e que recebemos donativos financeiros que se dirigiam ao partido e não ao colectivo SR. Não podemos deixar de classificar estas acusações como gravíssimas, infundadas e, por muito que nos custe, difamatórias e mentirosas. Infelizmente, na reunião da Mesa Nacional seguinte (14.10.2017), foi instaurada uma nova Comissão de Inquérito.
Perante esta decisão da Mesa Nacional mostramo-nos disponíveis para esclarecer qualquer dúvida aos camaradas interessados e abrir uma discussão política, na base destes processos, sobre que esquerda precisamos e como a construir. A liderança do BE pretende asfixiar a democracia no partido mas estamos cientes que a melhor forma de combater os seus métodos é o diálogo com os restantes camaradas.
Está igualmente a circular uma carta aberta de solidariedade com os militantes que estão a ser alvo da Comissão de Inquérito e que deve ser assinada por todos aqueles que lutam por um Bloco de Esquerda plural, democrático e socialista.