A violência machista continua a espalhar-se como uma praga; os feminicídios continuam a ceifar as nossas vidas todos os dias; a extrema-direita persegue-nos e desfaz todos os avanços que conseguimos e a justiça patriarcal continua a proteger violadores, abusadores e machistas.
O ano passado registaram-se números e casos particularmente perturbadores. Uma mulher assassinada a cada duas horas na América Latina. A absolvição de um agressor sexual em Itália porque "a vítima demorou 20 segundos a reagir". A liberdade concedida à nojenta manada de empresários e pedófilos em Múrcia, depois de terem prostituído raparigas entre os 14 e os 17 anos em situação de vulnerabilidade e risco social. E, claro, a maior violação da história francesa: Gisèle Pelicot foi drogada durante dez anos e violada mais de 200 vezes por 51 homens, tudo orquestrado pelo ex-marido. É um pesadelo.
É por tudo isto que neste 8 de Março, Dia Internacional da Mulher Trabalhadora, milhões de mulheres de todo o mundo voltarão às ruas e praças das nossas cidades em defesa dos nossos direitos ao grito de "Nem uma a menos!"
A violência contra as mulheres cresce em Portugal
Em Portugal a comunicação social burguesa e a extrema-direita têm agitado a ideia de que se vive um clima de “insegurança” por causa dos imigrantes. Mas a verdade é outra: a insegurança advém da normalização do racismo e machismo pela extrema-direita.
É graças à extrema-direita e aos machistas que cria que têm aumentado os casos de violência para com mulheres e pessoas queer, em particular os mais extremos: violações e feminicídios. De acordo com a PJ, entre janeiro e setembro de 2024 foram violadas 38 mulheres por mês em Portugal e foram assassinadas 25 mulheres. Números assustadores.
A violência doméstica em particular é um autêntico flagelo social. É o crime mais denunciado e mais mortífero — a APAV registou 15 mil crimes de violência doméstica no primeiro semestre de 2024 — e também um dos mais ignorados, resultando em mais feminicídios. A polícia é a primeira a ignorar estas queixas, agredindo as vítimas uma segunda vez. O esperado de uma instituição pejadas ela própria de agressores machistas: em 5 anos foram abertos quase 500 processos disciplinares por violência doméstica praticada por agentes da PSP e militares da GNR. Destes, apenas 5 resultaram em demissão.
Os tribunais deixam os agressores em liberdade na maioria dos casos, criminalizando as vítimas e violentando-as mais uma vez. Uma justiça patriarcal cúmplice há décadas pela mão de juízes e juízas machistas e retrógrados que querem impingir às mulheres o ideal da mulher submissa, mãe e dona de casa.
O novo ataque da direita e extrema-direita contra o aborto é mais uma prova deste aumento de violência sobre as mulheres. Portugal tem uma lei bastante restritiva para a interrupção voluntária da gravidez, além de vários hospitais públicos que se recusam a efetuar esta prática médica. À boleia de uma classe médica elitizada e conservadora, a lista de objetores de consciência tem crescido nos últimos anos, obrigando várias mulheres a deslocarem-se ao Estado espanhol — 530 em 2023 — para interromperem a gravidez.
Este é um ataque a todas as mulheres, mas é preciso ser claro: é sobretudo um ataque às mulheres da classe trabalhadora, que não têm os meios económicos para abortarem fora do país ou numa clínica privada. Sem meios públicos onde possa existir uma saúde completa para mulheres cis e trans, somos nós as mais violentadas por não termos a quem recorrer.
O movimento feminista não recuará
Não podemos esperar que instituições machistas e fascistas, como a polícia ou os tribunais, resolvam os nossos problemas. O movimento feminista de classe e anticapitalista só pode contar com as suas próprias forças. E, se os últimos anos servem de exemplo, não voltaremos atrás no nosso movimento e nas nossas reivindicações.
Neste 8 de Março às 15h na praça do Marquês de Pombal estaremos organizadas e sairemos às ruas, gritando bem alto contra toda a escória fascista e machista que nos agride.
Nem um passo atrás! Pela construção de um feminismo revolucionário, junta-te à Esquerda Revolucionária e Livres e Combativas!