As alterações climáticas e as suas consequências não são mera invenção conspiratória. Há evidências científicas dos sérios efeitos ao nível da produção alimentar, contribuindo para o agravamento das desigualdades sociais e de género, bem como para a desestabilização geográfica e política mundial.

A produção capitalista desenfreada, o esgotamento de recursos naturais e a necessidade de reprodução de um sistema que explora mulheres, homens e a natureza até ao limite são fatores que têm levado alguns representantes da burguesia a negarem a existência de alterações climáticas ou a delegarem o seu agravamento a outras condicionantes que não a manutenção deste modo de produção parasita.

As alterações climáticas afectam sobretudo as mulheres trabalhadoras

O impacto das alterações climáticas afecta em diferentes graus segundo o género, a classe social, a geografia e a idade. Trabalhadoras, camponesas e crianças são as mais acometidas, sobretudo nos países neocoloniais, onde as condições de vida são mais precárias e onde a produção agrícola ainda é realizada nos moldes familiares. Dentro deste modelo, cabe às mulheres muitos dos trabalhos de produção alimentar em pequena escala, bem como atividades de recolha de água, manutenção familiar e criação dos filhos.

O impacto das alterações climáticas acumula-se assim em várias faces: no aumento da temperatura, tornando as zonas secas mais secas e as regiões húmidas mais húmidas; no aumento do nível do mar, causando a salinização do solo e reduzindo o rendimento de culturas, além de diminuição da produção pesqueira e danos aos aquíferos costeiros; nas enchentes, aumentando a escassez de alimentos e a transmissão de doenças pela água como a diarreia, a cólera ou a febre tifóide; nos desmatamentos que intensificam a erosão do solo, diminuindo a produtividade agrícola e aumentando a dificuldade de extracção de recursos florestais e água, desempenhada em larga escala por mulheres, gastando coletivamente 140 milhões de horas por dia nestas tarefas.[1]

Alguns exemplos destes impactos podem ser encontrados na África Ocidental, onde já se associa o aumento do nível do mar ao ressurgimento de doenças tropicais endémicas, afetando, sobretudo, mulheres grávidas, crianças e idosos; ou  na América Latina, onde a escassez de água agrava o trabalho agrícola de milhares de camponesas, que precisam de se adaptar às ocorrências de seca e desertificação.

Segundo dados da União Europeia, as mulheres representam 70% das 1,2 mil milhões de pessoas em situação de miséria, e, em contrapartida, produzem dois terços de todo o trabalho efectuado globalmente, proporcionando uma relação de desigualdade de género e condições sociais e de sobrevivência que afecta milhões de mulheres por todo o mundo. Além disso, 75% dos refugiados ambientais existentes no mundo são mulheres e crianças que são obrigadas a emigrar por problemas decorrentes das alterações climáticas.

A catástrofe climática reforça a opressão

As relações de poder da sociedade de classes envolvem o controlo da força de trabalho feminina na sua condição doméstica, posição dominada dentro das relações familiares e conjugais, partindo de uma necessidade de realizar a reprodução da força de trabalho. Em situações de alterações climáticas, com a degradação das condições materiais de vida, estas desigualdades aumentam ainda mais. Relações discriminatórias entre homens e mulheres, a misoginia, o feminicídio, a violação, o aumento da prostituição ou da incidência do vírus da SIDA, entre tantas outras situações danosas entre géneros são emergentes e relacionam-se, indirectamente, com as alterações climáticas.

Precisamos de uma alternativa socialista, feminista e ambiental!

Actualmente, os movimentos feminista, ambiental e sindical continuam a ter perspectivas separadas na forma como abordam as suas lutas. Defendemos a necessidade de unir estas lutas, imprimir-lhes um carácter de classe e revolucionário.

As alterações climáticas só serão resolvidas com a planificação democrática da economia que garanta as condições materiais necessárias à emancipação dos sectores mais oprimidos da sociedade, em particular as mulheres trabalhadoras e camponesas, preservando ao mesmo tempo os ecossistemas e o planeta. Por isso, defendemos a nacionalização de todo o sector energético sob controlo democrático dos trabalhadores e a substituição dos combustíveis fósseis por alternativas renováveis, reconvertendo todos os empregos actualmente existentes nas indústrias produtoras de combustíveis fósseis.

A luta pelos direitos das mulheres trabalhadoras, pela equidade entre géneros e pelo fim da violência machista são questões que nós, no Socialismo Revolucionário, defendemos entre a classe trabalhadora de todo o mundo. Apenas com a união, solidariedade e resistência internacionalista conseguiremos lutar contra um sistema que destrói desde o meio social ao meio ambiente e que sempre afecta mais as mulheres de classe trabalhadora, também principais agentes na luta contra esta dinâmica avassaladora! Adiante na luta pelo socialismo!


[1] ALAN, Mayesha et al. Women and Climate Change. 2015, p. 28.

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