O turbilhão da luta de classes revela-se com força e está a deixar a sua marca em numerosos países, com um detonador comum: o custo de vida somado ao desabastecimento energético. A guerra imperialista na Ucrânia acentuou os grandes desequilíbrios que o conjunto do sistema capitalista já estava a sofrer.

Greve geral na Grécia: “o salário não chega, as contas não param”

A inflação na Grécia registou o maior aumento em 25 anos, fixando-se em cerca de 9%. A eletricidade aumentou, no princípio do ano, 56%, o combustível 21,6% e o gás natural 156%.

No final de fevereiro, 10.000 pessoas manifestaram-se em frente ao Parlamento em Atenas e nas principais cidades contra a subida dos preços. Em meados de março, milhares de agricultores mobilizaram-se durante semanas e cortaram os acessos a Atenas no dia 18, sexta-feira. Mas o ponto alto deste mal-estar social foi expressado na greve geral convocada pelos principais sindicatos para o dia 6 de abril. Os transportes, escolas e os hospitais em todo o país ficaram paralisados e dezenas de milhares de trabalhadores e jovens saíram às ruas exigindo aumentos salariais que impeçam o empobrecimento generalizado da população.

A classe trabalhadora grega, depois de quase duas décadas a sofrer com as políticas capitalistas de privatização, austeridade e cortes selvagens, já voltou a demonstrar que não está disposta a continuar a pagar a conta da crise. Com o lema “o salário não chega, as contas não param”, denunciaram o ridículo aumento de 2% do salário mínimo aprovado em janeiro pelo governo de direita do Mitsotakis, enquanto são entregues milhões de euros em subsídios para o combustível às empresas.

Albânia: a população revolta-se contra o oligopólio do petróleo

Durante cinco dias seguidos em março, milhares de jovens e trabalhadores participaram em protestos por todo o país contra o aumento dos preços dos combustíveis e alimentos, culminando no dia 13 com uma grande manifestação em Tirana, a capital.

No centro das atenções, o oligopólio petrolífero e o governo social-democrata do primeiro-ministro Edi Rama, que permite aos capitalistas enriquecer com a especulação à custa da degradação das condições de vida da população. Em apenas uma semana o preço da gasolina subiu 40%, num país onde o carro é vital, pois a rede de transportes públicos é praticamente inexistente, e onde o salário médio é de 490 euros.

O Governo tentou parar a mobilização prometendo uma ajuda de 24 euros a reformados e grupos vulneráveis. Um autêntico insulto! Assim, a 19 de março, mais uma vez dezenas de milhares saíram às ruas da capital. Dois dias depois, Rama anunciou ajuda para o pagamento do combustível no setor agrícola, a redução do imposto de renda para mais da metade dos trabalhadores dos setores público e privado, mas recusou-se a reduzir os impostos sobre os hidrocarbonetos dos quais beneficiam as petrolíferas e que compõem 53% do preço de comercialização.

Ao mesmo tempo, o governo acusou o movimento de violento e minoritário, além de utilizar a repressão, com dezenas e dezenas de detidos. Apesar disto, a fúria contra os capitalistas e especuladores, que se expressava muito bem no grito que marcou os protestos: “parem de nos roubar” não apenas não desapareceu, como se irá espalhar. 

Indonésia, Sri Lanka, Índia … O sudeste asiático no olho do furacão

O sudeste asiático é protagonista, desde há vários anos, de constantes e profundas revoltas. Nos dias 28 e 29 de março, milhões de trabalhadores, camponeses pobres e oprimidos da Índia enfrentaram o governo de extrema-direita de Modi com uma greve geral de 48 horas contra as privatizações, as leis laborais e o forte aumento dos preços dos alimentos e combustíveis. Esta foi a gota de água que faltava num país assolado pelo desemprego massivo, pobreza endémica, ausência de serviços públicos básicos e depois de uma gestão criminosa da pandemia.

Trabalhadores do setor siderúrgico, petróleo, telecomunicações, correios e saúde rural, ou mineiros do cobre e do carvão tiveram um papel destacado, especialmente os de empresas públicas ameaçadas pela privatização, como a India Carbon Ltd ou os bancos estatais.

A população do Sri Lanka está a suportar desde há meses o desabastecimento crónico de alimentos, medicamentos, combustível, além dos cortes de eletricidade de mais de 13 horas. O encarecimento dos combustíveis está a provocar a ruptura do Estado, que não pode importar combustível durante semanas para a ilha, levando ao colapso da economia. 

Este cenário deu lugar a uma mobilização espontânea no dia 31 de março em frente à residência do presidente Gotabaya Rajapaksa. Centenas de pessoas invadiram o edifício e rapidamente os protestos se estenderam pela capital e outras cidades. Milhares de jovens e trabalhadores enfrentaram a intervenção do exército, o recolher obrigatório e o uso de gás lacrimogéneo. Esta determinação obrigou a cancelar o estado de emergência ao fim de cinco dias. A 3 de abril, quase todo o gabinete — menos o Presidente e o Primeiro-Ministro — demitiram-se e dias depois 42 deputados da coligação governamental renunciaram, deixando o governo suspenso no ar.

A 9 de abril, mais uma vez, as massas inundaram as ruas do país. Se o regime pôde manter-se foi apenas devido à ausência de uma oposição revolucionária que avançasse com um plano ascendente de luta e uma greve geral até à sua queda.

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Todos estes acontecimentos demonstram a força dos oprimidos para acabar com a barbárie capitalista. Mas para isso é urgente construir um partido revolucionário que permita catalisar toda esse potencial e transformar a sociedade.

Como se fosse uma réplica, no dia 11 de abril dezenas de milhares de estudantes e trabalhadores jovens indonésios saíram às ruas de Jakarta e de outras regiões, como Sulawesi Sul e Java Ocidental, enfrentando a repressão de canhões de água e da polícia. Os protestos foram convocados contra os planos da burguesia que pretende um futuro terceiro governo de Joko Widodo — apesar de a Constituição o proibir — e continuar a aplicar a agenda de ataques e cortes.

Esta situação, somada ao rápido encarecimento do cabaz básico, está a impulsionar os protestos que recordam as mobilizações estudantis que levaram à queda do ditador Suharto em 1998. Cerca de 70% dos indonésios recusa a ideia de continuidade de "Jokowi". A Indonésia vive hoje uma continuação da revolta de trabalhadores que paralisou o país em outubro de 2020 contra a Lei Ómnibus, uma contra reforma laboral que embarateceu ainda mais os despedimentos e aumentou as horas extras legais. Até ao momento, as manifestações massivas obrigaram o governo a declarar que não modificará a Constituição nem adiará as eleições de 2024.

Todos estes acontecimentos demonstram a força dos oprimidos, da classe trabalhadora e das massas pobres quando se colocam em marcha, que é possível acabar com a barbárie provocada pelo capitalismo. Mas para isso a tarefa mais urgente é construir um partido revolucionário com um programa e uma estratégia de luta que permita canalizar todo este potencial e transformar a sociedade de baixo a cima.

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