Um holocausto patrocinado por Washington e Bruxelas
"Quando Gaza estiver completamente destruída, os seus cidadãos concentrar-se-ão a sul do corredor de Morag e começarão a partir em grandes grupos para outros países", respondeu o ministro das Finanças israelita, Bezalel Smotrich, à pergunta sobre quando terminará a Operação Carruagens de Gideão, a nova espiral de morte e destruição desencadeada pelo Estado sionista em Gaza. O próprio Netanyahu não hesitou em defini-la como a "solução final". O mesmo termo utilizado pelos nazis quando enviaram milhões de judeus, comunistas e minorias étnicas e religiosas para os campos de extermínio de Auschwitz ou Mauthausen!
Tal e qual os nazis! Netanyahu, apoiado por Trump, organiza um holocausto na Palestina
Os métodos são os mesmos: provocar um verdadeiro holocausto, combinando o assassínio em massa com bombas e balas e o extermínio pela sede, a doença e a fome, para forçar o êxodo de centenas de milhares de palestinianos e o internamento de muitos deles em campos de concentração em países terceiros.

O número de mortos diretos ultrapassa os 70.000. Se acrescentarmos as mortes por doença, subnutrição, etc., várias fontes estimam que o número de mortos ultrapassa os 180.000. Este massacre poderá multiplicar-se nas próximas semanas com a decisão do governo israelita de destruir a maior parte dos sistemas de água potável e de eletricidade e de paralisar os comboios de ajuda humanitária, impedindo que alimentos, água, medicamentos e outros bens de primeira necessidade cheguem a centenas de milhares de pessoas.
Não há pão nas padarias e os profissionais de saúde referem que têm de reutilizar seringas e trabalhar em condições insalubres. Os funcionários da ONU alertam para o facto de 14.000 bebés e 65.000 crianças poderem morrer nos próximos dias e semanas.
Encorajados pela cumplicidade ocidental, os planos do governo nazi para "varrer Gaza do mapa" através da Operação Carruagens de Gideão são complementados pelo lançamento da Operação Muralha de Aço na Cisjordânia.
Alguém tão insuspeito de radicalismo pró-palestiniano como o Diretor de Operações Globais do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos denunciou, há dias, que esta operação implica "a integração progressiva da Cisjordânia ocupada no Estado de Israel", numa "situação de apartheid" em que "a linha entre a violência dos colonos e a violência do Estado (israelita) foi completamente esbatida, o que facilita ainda mais a violência e a impunidade".
Estamos perante um holocausto como o que foi organizado por Hitler e Goebbels contra os judeus, transmitido em direto pela televisão em todo o mundo e com o apoio total do governo de extrema-direita de Donald Trump, que continua a fornecer milhares de milhões de dólares e armas ao Estado sionista, e a cumplicidade cínica dos restantes governos ocidentais, a começar pelos da União Europeia.
Um holocausto contra o qual os governos que emitem declarações condenatórias se limitam a verter lágrimas de crocodilo, mantendo relações comerciais e diplomáticas com o regime assassino de Netanyahu. E a razão é muito simples: tal como o regime nazi, este massacre proporciona lucros multimilionários aos grandes bancos e empresas estado-unidenses e europeias.
Um genocídio altamente lucrativo
A máquina de destruição e morte do Estado sionista não poderia ser mantida durante 24 horas sem o financiamento, o capital, o investimento e o comércio fornecidos pelo imperialismo ocidental.
Os planos de Trump para transformar Gaza numa estância de luxo, depois de os palestinianos terem sido massacrados e expulsos, não são ilusórios. Trata-se de um projeto há muito acarinhado por especuladores imobiliários, bancos e empresas de construção israelitas, norte-americanos e europeus. A este negócio lucrativo, que será construído sobre o sangue do povo palestiniano, junta-se a exploração de jazidas de gás e petróleo, o sector agroalimentar e os investimentos na própria indústria militar e no sector tecnológico ligado à produção de armas e à espionagem. Os fabricantes das bombas, aviões e tanques que arrasam Gaza batem recordes na bolsa, distribuindo dividendos milionários a bancos e empresas de todo o mundo.

Entre 2019 e 2023, vinte bancos europeus concederam 36,1 mil milhões de euros em empréstimos e garantias aos maiores fornecedores internacionais de armas de Israel. Começando com o BNP Paribas de França e continuando com o Crédit Agricole, o Deutsche Bank, o Barclays ou o Citigroup de Nova Iorque, líder do consórcio que financiou a compra dos super-aviões F-35, os mais caros e destrutivos do mercado. Bancos espanhóis como o Santander e o BBVA não podiam faltar nesta lista macabra.
De janeiro de 2020 a agosto de 2023, 776 empresas europeias prestaram apoio financeiro no valor de 164,2 mil milhões de dólares a 51 empresas que operam nos colonatos ilegais na Cisjordânia. Portugal também é cúmplice e já no ano passado exportava mais armas para Israel do que a Alemanha
E ainda temos de ouvir falar do "isolamento internacional" de Netanyahu, das "pressões europeias" e dos seus "esforços para a paz". Que cinismo! Com a mesma mão que assinam as declarações de condenação, assinam os contratos milionários para continuar a massacrar o povo palestiniano!
Trump procura a cumplicidade dos regimes reacionários do mundo árabe
Como parte da campanha de propaganda para branquear o papel decisivo dos EUA e da UE neste genocídio, os meios de comunicação capitalistas ocidentais apresentam como "prova" de uma mudança na política ocidental em relação a Israel as declarações do primeiro-ministro britânico Starmer, do presidente francês Macron e de outros que ameaçam rever a assinatura de um acordo comercial entre a UE e o regime de Netanyahu. Ou a recente visita de Donald Trump à Arábia Saudita, ao Qatar e aos Emirados Árabes Unidos e o facto anedótico de não ter parado em Telavive para mais uma sessão fotográfica com Netanyahu.
Que falácia, como se Netanyahu precisasse de mais fotos com Trump para continuar, como se não falassem todos os dias, planeando juntos o holocausto em curso! E, acima de tudo, como se o regime nazi não continuasse a receber, dia após dia, o dinheiro da ajuda militar dos EUA, dos negócios de armas e de todos os outros investimentos que lubrificam a sua máquina de matar.
As decisões de Trump, como a suspensão temporária dos bombardeamentos contra os Houthis no Iémen ou a possibilidade de retomar as negociações que ele próprio interrompeu com o Irão, não passam de manobras cínicas típicas do Grande Jogo imperialista. Apostam no adiamento temporário da ofensiva contra outros inimigos para se concentrarem no seu principal objetivo neste momento: o genocídio e a expulsão do povo palestiniano.
O mesmo se passa com os acordos assinados entre os EUA e as monarquias ultra-reaccionárias do Golfo Pérsico sobre compra e venda de armas e outros planos de investimento. Para além de melhorar a posição competitiva das empresas norte-americanas em alguns países árabes, Trump está a tentar assegurar o apoio destes regimes para suprimir o movimento de massas em apoio à Palestina e para continuar a aceitar submissamente os planos dos EUA e de Israel para a região, como têm feito até agora. Washington e Telavive há muito que consideram planos para a deportação em massa da população palestiniana para países como o Egito, a Síria ou mesmo a Líbia.
A China e a Rússia desviam o olhar
No entanto, se Trump e Netanyahu conseguiram avançar desta forma, é porque o bloco imperialista rival, a Rússia e a China, estão a olhar para o outro lado e não fazem nada de sério para impedir este massacre.
Embora alguns na esquerda nada digam sobre isto, a China já é o maior parceiro comercial do Médio Oriente como um todo e o segundo maior de Israel. O regime de Xi Jinping limita-se a declarações abstratas de paz e diálogo, enquanto, na prática, está empenhado em manter o status quo e a estabilidade capitalista regional.

O comércio entre Pequim e o Médio Oriente duplicou entre 2017 e 2022, passando de 262,5 mil milhões de dólares para 507,2 mil milhões de dólares. Metade destes investimentos estão concentrados nas monarquias do Golfo: Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Qatar, Kuwait, Barém e Omã, que também fornecem 50% do gás e do petróleo consumidos pelo gigante asiático.
Os acordos pontuais de Trump com estas monarquias são insignificantes em comparação com o peso decisivo e os projetos chineses de grande envergadura, que abrangem todos os sectores (portos, transportes, redes eléctricas, alta tecnologia...) e todos os países, incluindo Israel.
No mesmo período, o investimento e o comércio entre a China e o regime sionista passaram de 13,1 mil milhões de dólares para 24,45 mil milhões de dólares, incluindo a compra e venda de tecnologia para a indústria militar, espionagem e repressão, bem como grandes investimentos em portos, transportes e infra-estruturas fundamentais para o funcionamento da máquina de guerra sionista. De facto, entre março de 2024 e março de 2025, enquanto Telavive intensificava o seu genocídio, as exportações chinesas para Israel cresceram 53,1% e as exportações de Israel para a China 48,9%.
Alguma esquerda estalinista e reformista, que retrata Xi Jinping e Putin como combatentes anti-imperialistas — ou como "bons imperialistas" cujo confronto com Washington "abre espaços para a luta pela paz" e pela "soberania dos povos" —, deveriam responder a estas perguntas. Porque é que a China e a Rússia não romperam relações diplomáticas e comerciais com Israel? Porque é que Pequim não usa o seu poder económico e a dependência de dezenas de países dos seus financiamentos, investimentos e comércio para impor um embargo e sanções contra o regime sionista e os países que comercializam com ele, como Washington tem feito tantas vezes contra países que considera inimigos?
A resposta é simples. A China e a Rússia são potências imperialistas cuja única preocupação é a defesa dos seus negócios e interesses na luta com os EUA por mercados, rotas comerciais e fontes de matérias-primas.
Uma verdadeira luta anti-imperialista em defesa do povo palestiniano desencadearia um movimento revolucionário de massas no mundo árabe e muçulmano, ameaçando os negócios, projectos e investimentos de milhares de milhões de dólares do regime chinês com as elites capitalistas árabes.
Intensificar a solidariedade internacionalista!
A única forma de travar o holocausto nazi contra o povo palestiniano é a que foi demonstrada pela Intifada nos anos 90 do século XX e a que milhões de jovens, trabalhadoras e trabalhadores propõem há meses, saindo à rua em manifestações de massas, organizando acampamentos de apoio à Palestina, bloqueios de carregamentos de armas e campanhas de boicote a Israel.
Hoje, mais do que nunca, só uma mobilização internacional de massas pode travar a "solução final" que Netanyahu e Trump estão a preparar com o apoio de sectores-chave da burguesia sionista e internacional e da extrema-direita mundial. Não é por acaso que os mesmos que se vangloriavam do antissemitismo mudaram-se de armas e bagagens para o sionismo mais brutal, abraçando o seu discurso e programa supremacista e islamofóbico.
As mobilizações de massas em diferentes países árabes, as 500.000 pessoas que se manifestaram em Londres e as 100.000 em Haia ou Madrid nas últimas semanas mostram a enorme força e vontade de lutar que existe entre a juventude e a classe trabalhadora para travar o genocídio sionista e fazer frente às medidas de criminalização e repressão contra o movimento de apoio à Palestina que estão a ser aprovadas pelos governos e parlamentos da "Europa democrática".

Em Portugal e no resto do mundo multiplicam-se ações em solidariedade com a Palestina. É altura de dar um passo em frente. Temos de transformar toda esta força numa greve geral que paralise a atividade produtiva, desferindo um golpe decisivo contra os governos e as empresas que financiam e sustentam o genocídio. Com o clima de rejeição do sionismo assassino em todo o mundo, uma greve geral tornar-se-ia um ponto de referência e um exemplo a seguir pelos oprimidos do mundo árabe e de outros continentes.
Sabemos que existem muitos obstáculos para alcançar este objetivo, a começar pela sabotagem das burocracias sindicais que apostam no rearmamento e apoiam as políticas imperialistas dos seus governos. É por isso que é essencial desenvolver uma grande campanha de propaganda e agitação a favor da greve geral, organizando assembleias de massas nos locais de trabalho, nas escolas secundárias e universidades, nos nossos bairros.
Temos de redobrar as manifestações de massas contra o genocídio, mas é essencial que a greve geral seja colocada no centro do discurso. Esta é a tarefa que se coloca aos milhares de activistas e organizações que promovem a solidariedade internacionalista com o povo palestiniano.
Nem um euro, nem uma bala para o regime nazi de Netanyahu!
Ruptura de todas as relações diplomáticas, militares e comerciais com Israel!
Parem o genocídio contra o povo palestiniano! É preciso voltar às ruas!
Pela Federação Socialista do Médio Oriente! Do rio até ao mar, Palestina vencerá!