As reações estatais aos acontecimentos no Médio Oriente nas últimas semanas não deixam margens para dúvidas: o Estado português e os partidos do sistema alinham, caninamente, com a classe dominante ocidental no suporte ao regime de apartheid, sionista, racista e fascista anti-palestiniano do Estado de Israel.

Usando cinicamente o “direito de Israel a defender-se”, o “Presidente dos afetos” tem a lata de interpelar o representante diplomático palestino, dizendo que “Não deviam ter começado…”, varrendo de uma penada todo o histórico de abusos e crimes de guerra que os palestinianos sofrem às mãos do Estado de Israel.

Este é o tom com que a classe dominante portuguesa e internacional aborda a atual guerra contra a Palestina.

Ele e o Governo correram a manifestar o seu total e incondicional apoio ao Estado de Israel. Com efeito, as declarações iniciais continuam a marcar o tom oficial na leitura e posição face aos acontecimentos de 7 de Outubro e à resposta desproporcional e criminosa do regime de Telavive. Isto demonstra que o Estado procura manter-se como “bom aluno” dos EUA e da UE.

Já António Costa declarou que Israel “tem direito de defender-se do Hamas, mas respeitando os civis”. Sabe, no entanto, que as suas “boas intenções” esbarram na olímpica indiferença do Estado de Israel, como esbarraram todas as resoluções da ONU e de outros organismos internacionais que pedem a “moderação e respeito pelos civis”.

Marcelo e o Governo omitem que a situação de facto na Faixa de Gaza, desde há dezenas de anos, ultrapassa tudo o que a chamada “comunidade internacional” define como “respeito pelos direitos humanos”: cerco económico, bloqueios a alimentos, água, medicamentos, combustíveis, bombardeamentos massivos, incursões de comandos, roubo de terras para colonatos ilegais, ataques de milícias sionistas-fascistas contra os palestinianos na Cisjordânia, etc., etc.. Uma permanente pressão para limpar etnicamente não só a Faixa de Gaza, mas a Cisjordânia, — isto é, todo o povo palestiniano que ainda vive no seu território.

Nada disto é novo e alguns destes métodos têm sido amiúde usados nos últimos 30 anos e o “apego ao direito internacional” do Estado português não passa de palavras ocas e hipocrisia.

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O governo chamou o Embaixador de Israel ao Ministério dos Negócios Estrangeiros não para condenar os crimes de guerra que o Estado de Israel está a cometer, mas para manifestar a sua solidariedade com o regime fascista e racista de Netanyahu.

Aliás, com a memória seletiva a funcionar, esquecem mesmo que a criação do Estado de Israel foi feita usando métodos de terrorismo individual idênticos aos usados pelo Hamas nas ações de 7 de Outubro. O próprio Hamas é produto de Israel, usado para enfraquecer a Autoridade palestiniana e assim minar os Acordos de Oslo.

Tudo isto reforça a hipocrisia mais gritante que põe na mesma balança a permanente opressão e exploração dos palestinianos nos territórios ocupados e do seu próprio território em que são tratados como cidadãos de segunda.

A atual situação na Faixa de Gaza e, cada vez mais também na Cisjordânia, é uma guerra brutal e desproporcional de um Estado super-armado pelos EUA e o chamado “Ocidente” contra as populações palestinianas. Sujeita desde há cerca de 3 semanas a bombardeamentos massivos, está a sofrer a destruição sistemática de todas as suas estruturas básicas, aumentando diariamente os números de feridos e mortos.

A tal ponto vai a vingança selvática do Estado de Israel que já não se coíbe de bombardear hospitais e infraestruturas da ONU e ONGs no terreno. E qualquer nota que traga a realidade de brutal violação dos direitos humanos e os mais que evidentes crimes de guerra que Israel está a praticar, sofre uma barreira de insultos e silenciamento, ameaças e intimidação.

A tudo isto, Marcelo Rebelo de Sousa e o Governo fazem ouvidos moucos e choram “lágrimas de crocodilo”: o governo chamou o Embaixador de Israel ao Ministério dos Negócios Estrangeiros não para condenar veementemente os crimes de guerra que o Estado de Israel está a cometer, mas para manifestar a sua solidariedade com o regime fascista e racista de Netanyahu.

Na verdade, o apoio do Presidente e do Governo ao regime racista e fascista de Israel não é em nome do povo português, mas da Navigator, do Grupo Amorim, da Águas de Portugal, em defesa dos negócios de 3.000 milhões de Euros que fazem com Israel. Acima de tudo, negócios são negócios.

Não em Nosso Nome!

Apesar disso, a solidariedade com o povo palestiniano está viva e cresce.

Internacionalmente, nas principais cidades da Europa, do Médio Oriente, dos EUA, da América Latina, enormes manifestações exigem um cessar-fogo e o fim dos crimes de guerra de Israel. Este processo é acompanhado por um aumento extraordinário de medidas repressivas e censórias, como em França, onde estão proibidas as exibições de bandeiras palestinianas, ou a simples proibição de manifestações pró-palestinianas e cargas policiais contra ativistas, na Alemanha. As “democracias” mostram a sua face.

Desde os primeiros dias desta crise, também em Portugal, várias manifestações saíram às ruas. Contudo, faltam-lhes um programa político que potencie o movimento de solidariedade e o alargue a ponto de forçar o governo a mudar de agulha.

Enquanto isso, os partidos reformistas não ajudam os trabalhadores e juventude a tirar as lições necessárias e a promover uma verdadeira solidariedade com o povo da Palestina.

A estafada e vazia consigna de “Paz Sim, Guerra Não”, coloca acento na moral e omite os problemas políticos que o conflito no Médio Oriente encerra. A exigência do cumprimento dos acordos de Oslo e de Camp David, esbarra com a fraqueza de uma Autoridade Palestiniana colaboracionista com Israel e nada tem que ver com a situação concreta que se vive.

A realidade mostra que não haverá uma Palestina soberana e livre no quadro do capitalismo. Nem o capitalismo israelita, nem o imperialismo estado-unidense estão interessados em reconhecer o Estado palestiniano, nem a burguesia compradora palestiniana quer o fim da completa dependência da Cisjordânia e da Faixa de Gaza do controlo económico de Israel.

Tão pouco os diversos regimes árabes e islâmicos da região querem uma Palestina livre, pois um processo de libertação dessa envergadura irá, certamente, encorajar as massas dos seus próprios países a rebelarem-se contra o obscurantismo, opressão, repressão e exploração dos seus regimes.

O Hamas é o veículo de ação disponível para a resistência face às tropas fascistas-racistas do Estado de Israel. Mas traz em si o obscurantismo e opressão dos regimes teocráticos, ou seja, não é, nem de longe, libertador.

Pelo direito à autodefesa dos palestinianos e um movimento de solidariedade de classe e internacional

Apenas uma resistência de massas, que organize, democraticamente, a autodefesa armada face à barbárie sionista, poderá iniciar uma reviravolta na região. Essa resistência deve apelar à solidariedade dos árabes-israelitas mas também dos trabalhadores e juventude judeus de Israel.

De momento é necessário parar o massacre e isso não se pode fazer apelando à comunidade internacional e à ONU para fazer Israel cumprir, agora, as deliberações que sempre rejeitou.

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A Greve Geral Estudantil de Solidariedade com a Palestina convocada pelo Sindicato de Estudantes do Estado espanhol e que juntou 1 milhão de estudantes é um dos caminhos possíveis da solidariedade ativa.

A Greve Geral Estudantil de Solidariedade com a Palestina convocada pelo Sindicato de Estudantes do Estado espanhol e que juntou 1 milhão de estudantes é um dos caminhos possíveis da solidariedade ativa e da denúncia dos governos que sustêm o Estado de Israel.

Por cá, a participação da CGTP é, sem dúvida, importante, na medida que chama os trabalhadores à solidariedade com os palestinianos. Mas a sua posição tem de ser mais que a postura moral do “Paz Sim!, Guerra Não!”, terá de ter um conteúdo de classe; reivindicar a Paz no abstrato, ou espalhar ilusões na ONU e outras instituições capitalistas.não clarifica as ideias e espalha ilusões.

Esta posição está umbilicalmente ligada à posição do PCP que meramente defende o respeito pelas Resoluções da ONU e os Acordos de Oslo e Camp David, como se este conflito estivesse desligado da profunda luta de classes que atravessa a região, como se os interesses dos trabalhadores e pobres e da juventude palestinianos fossem idênticos aos interesses da burguesia palestiniana compradora e colaboracionista ou dos grupos islâmicos reacionários. Na política externa, como na interna, procura aliados nos “sectores progressistas da burguesia”, mas não oferece nenhum programa para a real libertação social dos palestinos.

Para pôr fim ao genocídio em Gaza a única ferramenta é a luta internacionalista dos trabalhadores, a sua mobilização e a greve geral. Não há neutralidade possível: ou se está com o povo palestiniano ou se é cúmplice da barbárie sionista. O overno PS tem que romper de imediato todas as relações políticas, económicas e militares com o Estado fascista e sionista de Israel!

Viva a solidariedade internacionalista com o povo palestiniano!

Fora as tropas de ocupação de Netanyahu!

Parar o genocídio sionista em Gaza!

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