É com pesar e grande tristeza que recebemos a notícia do falecimento de Esteban Volkov, filho de Zinaida Volkova e Platon Ivanovich Volkov.

Conhecido mundialmente por ser neto do revolucionário Leon Trotsky, compartilhou com ele e Natalia Sedova uma parte do seu exílio mexicano.

Quando, a 24 de maio de 1940, um gangue de stalinistas invadiram a casa de Coyoacán onde a família vivia para assassinar Trotsky, tanto o jovem Volkov quanto Trotsky ficaram levemente feridos, embora mais de 100 tiros tenham sido disparados de pistolas e metralhadoras. Leon Trotsky seria assassinado num segundo ataque perpetrado por Ramón Mercader, um assassino a mando de Stalin treinado durante anos para esse fim.

Os camaradas da Izquierda Revolucionaria tiveram a grande sorte de partilhar numerosos momentos com Esteban Volkov, tanto em reuniões políticas no Estado espanhol como no México participando em eventos públicos na Casa Museu Leon Trotsky. Contámos também com o seu apoio para as edições das Obras de Trotsky publicadas pela Fundación Federico Engels, muitas delas com prefácios das suas entusiáticas saudações.

Desde a Esquerda Revolucionária Internacional e da Fundación de Estudios Socialistas Federico Engels queremos transmitir toda a nossa solidariedade e carinho à sua família e amigos neste momento de despedida. Esteban Volkov foi sempre fiel à memória do seu avô e dedicou-se ativamente a defender a sua obra das calúnias do stalinismo e da burguesia, manteve uma confiança irredutível no futuro comunista da humanidade e foi fraterno com todos os militantes revolucionários.

Que a terra te seja leve camarada, nunca te esqueceremos.

 

Em homenagem a Esteban Volkov, publicamos a intervenção que realizou sobre as suas memórias do assassinato de Trotsky num ato que a secção do Estado espanhol celebrou em Barcelona no final de julho de 2003.

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Este que vos fala, Seva Volkov, é o último sobrevivente, a última testemunha ocular do último capítulo da vida de Leon Trotsky no México.

Para começar, gostaria de agradecer a todos os camaradas e à Fundación Federico Engels pelo trabalho que está a desenvolver na divulgação das ideias do marxismo.

É muito importante restaurar a verdade histórica neste mar de confusões, falsificações e alterações, no quadro da luta de classes, levada a cabo pelos opressores e exploradores do mundo que tentam manter o status quo.

Não sou especialista em religiões, mas acredito que contêm uma grande verdade, a existência do inferno. O único erro é a sua localização. Não está debaixo de terra mas aqui na superfície, com a dominação do império da produção privada e do capital. Neste inferno vivem três quartos da humanidade ou talvez mais (...) Vêm-me à cabeça algumas frases que Trotsky disse aos camaradas estado-unidenses por ocasião da fundação da IV Internacional:

"Nunca existiu uma tarefa tão importante na Terra, o nosso partido pede-nos para darmos tudo de nós. Mas, em troca, dá-nos a maior das satisfações. A consciência de que participamos na construção de um futuro melhor. Carregamos sobre os ombros uma partícula das esperanças da humanidade. E que a nossa vida não será vivida em vão."

A vida do revolucionário Leon Trotsky confirma estas palavras. Uma vida inteiramente dedicada à revolução e que acabou por se extinguir pela causa da revolução.

Trotsky, melhor do que ninguém, compreendeu o papel da burocracia como travão da revolução. Durante a última parte da sua vida, que considerava a mais importante, dedicou-se à tarefa de construir uma nova vanguarda revolucionária, bem como continuar a luta contra, e desmascarrar, o regime burocrático de Staline. A sua luta fez tremer o tirano do Kremlin devido à sua coragem. Por essa razão, o assassinato de LD (Trotsky) converteu-se na principal tarefa de Stalin.

Este que vos fala, Seva Volkov, é o último sobrevivente, a última testemunha ocular do último capítulo da vida de Leon Trotsky no México.

Quando cheguei à casa Viena nº 19 de Coyoacán (México) eu tinha 13 anos. Lembro-me dela como sendo uma pequena comunidade, uma grande família. Uma pequena vanguarda do socialismo, onde havia uma atmosfera de trabalho, solidariedade, valor humano. (...) Na casa havia sempre muita atividade. Trotsky sabia muito bem que seus dias estavam contados e queria fazer o máximo de trabalho possível no pouco tempo que lhe restava. Nunca esquecia a formação política dos seus camaradas.

Uma das características mais excecionais de LD (Trotsky) era o seu maravilhoso sentido de humor, o interesse que prestava aos seus camaradas, o seu calor humano; mas, ao mesmo tempo, era muito rigoroso com as regras e a ordem (...) Outra característica a ser notada sobre LD era a sua grande admiração pelo trabalho. Não admitia privilégios nem distinções.

A imprensa stalinista no México sempre atacou e caluniou Trotsky. Desde Moscovo chegavam milhares de rublos que eram distribuídos de forma generosa entre os jornalistas corruptos.

No início da década de 1940 vimos um aumento das calúnias e dos ataques. O comentário de Trotsky foi: "Parece que estes jornalistas trocaram as canetas por metralhadoras". A 24 de maio, um bando de terroristas liderados pelo pintor Álvaro Siqueiros entrou na casa (...) Foi um verdadeiro milagre Trotsky ter sobrevivido. Em parte deveu-se à rápida reação de Natalia que o empurrou para debaixo da mesa e o protegeu com o seu próprio corpo (...) Após o ataque fizeram-se modificações à casa graças à ajuda do partido trotskista estado-unidense, mas Trotsky era bastante cético quanto à utilidade dessas medidas. Ele estava convencido de que o próximo ataque não seria do mesmo tipo. E tinha razão.

Lembro-me de um comentário que ele fez a André Malraux quando lhe perguntou sobre os seus sentimentos em relação à morte. Trotsky, de forma calma, disse que a morte não é um problema quando um homem cumpriu o seu objetivo na vida.

A 20 de agosto eu regressava da escola pela rua Viena. Quando estava a três quarteirões de casa apercebi-me que algo se passava. Havia vários polícias na porta que estava aberta... Entrei e vi Harold Robbins, um dos guardas, que trazia uma arma e estava muito agitado. Perguntei-lhe "O que aconteceu?" e ele disse "Jackson, Jackson..." A princípio não entendi e continuei a andar. Vi um homem com sangue na cara junto a dois polícias. Estava num estado lastimável, gritava...

Sempre me vem à cabeça o comportamento dos grandes "heróis" stalinistas em comparação com a forma como os trotskistas lutaram e morreram nos campos da GPU, gritando: "Longa vida a Lenine e Trotsky!" e cantando A Internacional.

Quando entrei em casa percebi o que realmente tinha acontecido. Natalia e os guardas estavam lá. Um detalhe que me lembro é que Trotsky, mesmo naqueles momentos, não queria que o seu neto visse o que tinha acontecido. Isso demonstra a humanidade do homem.

Ainda teve clareza para dizer que Jackson não deveria ser assassinado. Era mais útil vivo.

Quero terminar com as últimas frases do testamento de Trotsky. "A vida é bela. Deixemos que as gerações futuras a limpem de todo o mal, opressão e violência e a desfrutem plenamente."

Uma frase que eu penso ser muito relevante. No nosso partido entrarão muitos camaradas sem a necessária formação política, a tarefa dos camaradas com mais experiência é formá-los e educá-los.

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