O grupo neonazi 1143 convocou uma marcha do “Orgulho Heterossexual” para o passado dia 10 de junho no Porto. Marcharam cerca de 700 pessoas, empunhando várias faixas e bandeiras reacionárias, mas destacando-se a palavra de ordem de “Orgulho Heterossexual”.
O conceito não é novo. A primeira dita “marcha de orgulho heterossexual” deu-se em 1990 na Universidade de Massachusetts, quando 150 estudantes tentaram marchar com slogans e pancartas homofóbicas, notavelmente a palavra de ordem “queima um paneleiro em efígie”, acabando por ser dispersos por intervenção de estudantes em contramanifestação. Quando no ano seguinte tentaram repetir o feito, foram rodeados por uma multidão dez vezes maior do que a sua.
O “orgulho heterossexual” apresenta-se como uma retaliação contra o orgulho queer. Logo à primeira vista, o conceito parece ridículo. A sociedade capitalista é intrinsecamente heteronormativa. Em nenhum lugar nesta é a heterossexualidade perseguida ou discriminada. Não existem direitos pelos quais lutar, conquistas a se fazer, ou lutas a comemorar. Nessa perspetiva, a equivalência é nula. Para entender, então, porque persiste esta ideia, temos de entender que o orgulho é também algo mais do que isso.
O conceito de orgulho queer surge no rescaldo da revolta de Stonewall. A vitória nas ruas das camadas mais oprimidas da comunidade queer inspirou um movimento político muito poderoso, que se bateu não só contra os seus opressores, mas contra aqueles que, apelando a uma via reformista e assimilacionista, comprometiam a luta pela libertação.
O orgulho – o viver abertamente e orgulhosamente como sendo quem somos – era o fulcro radical da proposta dos veteranos de Stonewall. Não mais iriam os jovens queer forçar-se a viver sujeitos à sociedade heteronormativa e patriarcal do capitalismo – eles iriam existir abertamente como um desafio a esta, e como lutadores pelo seu desmantelamento.
O orgulho sempre foi uma palavra de ordem anticapitalista e revolucionária. A palavra de ordem de um programa que, mais do que conquistar os direitos civis para uma minoria oprimida, se demarcou como querendo libertar a sexualidade de toda a humanidade. De superar a sujeição sexual do capitalismo.
Nesse caso, o que é o “orgulho heterossexual”? A retaliação reacionária a este programa.
O dito “orgulho heterossexual” nada mais do que é do que a represália fascista contra o programa revolucionário da juventude queer. Os seus objetivos são os de perpetuar o sistema de opressão heteronormativa e patriarcal, numa sociedade em que estes se encontram em plena decomposição. Neste aspeto, o seu papel histórico em nada difere das restantes ofensivas fascistas que, em situações revolucionárias, serviram como ponta-de-lança da classe dominante contra as forças da classe trabalhadora, como executores da sua opressão, e como veladores da sua ordem decadente.
Em todos os casos desde 1990 foram grupos fascistas e reacionários, cujo foco é atacar as organizações de classe trabalhadora, a organizar estes eventos. Este caso no Porto não foi diferente, organizado pelo grupo 1143, um dos mais militantes na sua violência contra a classe trabalhadora, contra as pessoas queer e racializadas, e contra as mulheres. Esta marcha, marcada no aniversário do assassinato de Alcindo Monteiro, e que levava como palavra de ordem a libertação de um dos seus assassinos, é uma tentativa de nos intimidar, de nos ameaçar de morte.
Os grupos fascistas, mesmo quando conseguem reunir 700 pessoas para marchar, representam ainda uma gota de água em comparação com o oceano das mobilizações multitudinárias com cunho anti-fascista que saem às ruas todos os anos para as marchas de orgulho LFBTI+, para o 25 de abril, e para todas as demais jornadas de luta. A classe trabalhadora tem toda a capacidade de esmagar estes fascistas. Têm sido as suas direções que não têm estado à sua altura. As direções do PCP, da CGTP e do BE deixaram uma e outra vez o caminho aberto para os fascistas se manifestarem, sem mobilizarem para contra-manifestações. Estes burocratas gritam “Não passarão” de punho erguido nos seus comícios apenas para na prática os deixar passar impunemente. Foi também o programa reformista destas organizações e o seu abandono das ruas que permitiu o crescimento da extrema-direita.
Os resultados da últimas eleições e as promessas reacionárias do novo governo encorajaram os grupos fascistas a passar das ameaças aos atos. No mesmo dia 10 em Lisboa um outro grupo fascista agrediu brutalmente vários atores do Teatro A Barraca, um dos quais, Adérito Lopes, teve de ser hospitalizado. Dois dia depois fascistas agrediram voluntárias que distribuíam comida a pessoas sem-abrigo no Porto. Não podemos tolerar que esta escalada de violência fascista contra nós continue impune! É urgente travá-la!
Rejeitamos totalmente as palavras vazias, o cretinismo parlamentar, a união com forças da burguesia e a defesa do sistema e instituições burguesas em crise como políticas capazes de travar o fascismo. O fascismo só será derrotado com mobilizações de massas nas ruas e locais de trabalho e com um programa revolucionário capaz de desafiar o poder do capital. É necessário construir a ferramenta capaz de o fazer e tornar a revolução socialista realidade: o partido revolucionário!
Todos e todas às manifestações anti-fascistas domingo dia 15 em Lisboa às 16h00 em frente do Teatro A Barraca e no Porto às 18h00 na Praça da Batalha!
Nenhuma agressão sem resposta!
Fascismo nunca mais!