O centro e norte de Portugal estão a ser devastados por inúmeros incêndios de grandes proporções, consumindo centenas de milhares de hectares de floresta. Sete pessoas morreram, há mais de 145 feridos e dezenas de casas ardidas. Milhares de bombeiros combatem, dia e noite, até à exaustão, tendo um deles morrido de ataque cardíaco.

Todos os anos o cenário se repete! Uma floresta privada, organizada e plantada para o lucro rápido, composta em mais de metade por eucaliptal e pinhal arde violentamente, destruindo tudo à sua passagem: pessoas, animais e casas. E com o aumento da seca e das temperaturas, devido às alterações climáticas, os incêndios continuarão a tomar proporções cada vez maiores.

A hipocrisia do Governo não conhece limites e a sua resposta já se fez ouvir pela boca das duas principais figuras do Estado. Marcelo Rebelo de Sousa apelou à unidade dos portugueses e à sua resiliência o que, perante o cenário atual, significa: aguentem-se à bronca e não reclamem; e Luís Montenegro depois de chorar lágrimas de crocodilo pelos bombeiros — que no resto do ano são ignorados — apresentou como grande medida o reforço da investigação criminal. Sobre a desorganização total e criminosa da floresta portuguesa, nem uma palavra. Em primeiro lugar, os lucros, e só depois as populações e o meio ambiente.

Quem paga as consequências destes incêndios não são as grandes empresas, como a Navigator, que possui o seu corpo de bombeiros profissional, mas os trabalhadores e o povo. Um trabalhador imigrante foi engolido pelas chamas em Albergaria-a-velha (Aveiro) quando tentava salvar material da empresa onde trabalhava. Esta morte e as outras não são acidentais ou fatalidades: são culpa das políticas capitalistas!

Só o povo salva o povo!

À hipocrisia e inoperância do Governo e altas instâncias do Estado, as populações respondem com coragem e auto-organização. Em muitas aldeias, o combate é feito pelo povo que arrisca a vida para defender as suas habitações. Ajudam os bombeiros voluntários que ao fim de vários dias se encontram completamente esgotados pelo combate.

Está claro que os sucessivos governantes não governam para as populações afetadas pelos incêndios e pela desertificação do meio rural. Depois dos incêndios de 2017 em Pedrógão Grande e Castanheira de Pêra que vitimaram mais de 100 pessoas, nada foi feito. São décadas de desinvestimento em serviços florestais e de protecção civil que continuarão pela mão dos sucessivos governos da direita e do PS que são representantes do grande capital.

É necessário investir fortemente numa resposta pública de protecção civil e de serviços florestais, com mais e melhor equipamento e não assente quase exclusivamente só no trabalho de bombeiros voluntários.

É necessário que haja uma mobilização pela base das populações afetadas pelos incêndios e da classe trabalhadora em geral em defesa das nossas vidas e do meio ambiente. É necessário nacionalizar a indústria do papel e da madeira e a propriedade privada do solo, por forma a ser possível planificar a floresta tendo em conta os interesses da grande maioria da população.

Tragédias como a que estamos a viver são inevitáveis em capitalismo. Se queremos, de uma vez por todas, acabar com o inferno dos incêndios florestais precisamos de o derrubar.

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