No dia 21 de outubro, Odair Moniz foi assassinado à queima-roupa por um polícia da infame esquadra de Alfragide, na Amadora. O homem de 43 anos, de origem cabo-verdiana e dono de um café no bairro do Zambujal, foi baleado com dois tiros no peito, na Cova da Moura, depois de ter sido perseguido pela polícia por um alegado furto de automóvel.
Perante esta situação pensamos imediatamente: quantos banqueiros e grandes empresas roubam milhões, quantos neonazis espancam e assassinam imigrantes e são ilibados? Já um morador negro dos subúrbios paga com a vida sendo inocente.
A morte de Odair criou uma justa revolta na população do bairro do Zambujal, na periferia de Lisboa, onde este também fazia trabalho voluntário na associação de bairro. Nos dois últimos dias multiplicaram-se as manifestações de pesar e de raiva contra mais um assassinato racista e, durante a noite, o incêndio de um autocarro e caixotes do lixo. Este é o grito de desespero de uma população apartada, sem serviços básicos e relegadas para um “canto” de onde quase só podem sair para ir trabalhar.
Mais uma vez, a polícia não tem culpa.
O Estado, através de Margarida Blasco, Ministra da Administração Interna, apressou-se a sancionar a atuação policial. Afinal de contas o polícia fez “o seu trabalho” que, ficamos a saber, é agredir e assassinar moradores dos bairros periféricos como bem nos recordam os vários casos das últimas décadas, quase sempre da mesma esquadra de Alfragide.
Segundo a PSP, Odair estaria armado com uma arma branca, uma tese atirada para o ar para tentar justificar o homicídio e que é refutada pelos moradores. Também a comunicação social já sentenciou o caso, justificando a atuação da polícia por inexperiência do agente. André Ventura obviamente foi mais longe, sentenciando imediatamente que bandido bom é bandido morto e aplaudindo mais um homicídio.
A própria atuação da PSP nestes bairros, e ontem à noite não foi excepção, foi isolar por completo o bairro, impedindo inclusive trabalhadores de voltarem a casa e revistando de forma violenta e discricionária várias habitações do bairro.
O inquérito “urgente” aberto pelo MAI terá desfecho de todos os outros: o agente agiu dentro da lei e será ilibado. Pedir ao próprio MAI para investigar os seus agentes é um contrassenso: a Ministra já nos disse que o agente fez “o seu trabalho”. A investigação deveria envolver, antes de mais, os moradores do bairro do Zambujal e as suas organizações.
Sem justiça, não há paz!
Saneamento imediato de todos os agentes fascistas da polícia!
Nenhuma confiança na polícia! Organização e auto-defesa!