A Marcha do Orgulho LGBTI+ deste ano acontece num contexto nacional e internacional preocupante. O avanço da extrema-direita em Portugal e na Europa e o genocídio sionista na Faixa de Gaza colocam desafios extra ao nosso movimento e a todas as pessoas queer.

A eleição de 50 fascistas para o Parlamento português irá aprofundar a tendência de aumento da violência contra pessoas queer dos últimos anos. Ofensas e ataques a casais queer no espaço público estão a tornar-se episódios quotidianos da nossa vivência. Os fascistas e machistas sentem-se impunes e encorajados para nos ofenderem ou atacarem simplesmente se passeamos na rua de mão dada ou se nos vestimos de determinada maneira.

As ofensas acontecem em todo o lado: em casa, no trabalho, na escola, no espaço público e digital. O discurso de ódio e o bullying online aumentou exponencialmente, mais 185% face ao ano passado, atingindo sobretudo a juventude queer e deixando marcas para a vida.

Se os machistas e queerfóbicos são os primeiros a atacar-nos, o Estado, as suas instituições e os seus funcionários são quem sanciona a violência e nada fazem para nos proteger. Antes pelo contrário! Quantas e quantas vezes as pessoas queer são violentadas às mãos da polícia, que ignora as nossas denúncias ou participa ela própria nos abusos e ofensas? E o cenário piora ainda mais se forem pessoas queer e imigrantes ou racializadas, que são um alvo preferencial da violência da extrema-direita.

Igualmente no acesso a cuidados de saúde inclusivos, a habitação ou a apoio social, as pessoas queer são discriminadas. Sofremos abusos de profissionais de saúde homofóbicos ou sem preparação; sofremos recusas ou abusos de senhorios e da nossa própria família, indo parar a situação de sem-abrigo. Dados da Agência dos Direitos Fundamentais da União Europeia apontam que entre 20 a 40% das pessoas sem-abrigo na Europa pertençam à comunidade LGBTI+, e que um terço da juventude queer já passou, em algum momento, por uma situação de sem-abrigo. E quando confrontados com a pobreza somos novamente discriminados porque, cada vez mais, o apoio social é deixado à caridade de instituições religiosas que se recusam a acolher pessoas queer ou mesmo a ajudar-nos.

Neste mês do Orgulho temos de gritar bem alto que não voltaremos para o armário! Quem terá de se esconder são todos os machistas, fascistas e racistas!

Não em nosso nome. Abaixo o Estado sionista e o pinkwashing!

Os protestos em solidariedade com o povo palestiniano que têm surgido pelo mundo têm contado com a presença de pessoas e grupos de todos os setores marginalizados da sociedade capitalista. Isso inclui também as pessoas queer que, devido à nossa solidariedade, temos vindo a ser particularmente atacadas pelos grupos homofóbicos que, nos nossos países, são quem mais ardentemente defende o genocídio que Israel comete contra o povo palestiniano.

A história da solidariedade dos coletivos queer internacionalistas para com o povo palestiniano data de há já duas décadas, quando Israel levou a cabo uma campanha de marketing, para se tentar promover, na imprensa ocidental, como um antro progressista e democrático num Médio Oriente regressivo e autocrático. Era o início do mito de “Israel: a única democracia no Médio Oriente” e também do pinkwashing.

Israel não é a capital queer do Médio Oriente. É a capital do pinkwashing, do capitalismo rosa, que se veste de progressista para lucrar à custa da nossa identidade ao mesmo tempo que assassina milhares de palestinianos e explora ferozmente a classe trabalhadora queer, corroendo o nosso movimento. Não há maneira de nos solidarizarmos com tal Estado.

Também em Portugal devemos recusar todas as tentativas de pinkwashing que se verificam, ano após ano, na Marcha do Orgulho que abre as portas aos nossos exploradores, aos senhorios que nos despejam e a empresas que, durante o mês de junho, põe uma máscara arco-íris e fingem preocupar-se com as nossas vidas.

Um exemplo particularmente hediondo é que o Arraial de Orgulho em Lisboa aceite consistentemente ser patrocinado pelo Idealista, uma empresa de imobiliário que representa toda a exploração habitacional que sofremos. Não existe orgulho na especulação imobiliária e não existe orgulho no capitalismo.

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Por todo o Mundo, o movimento LGBTI+ e feminista tem avançado também em solidariedade com outros movimentos como o anti-racista e contra o genocídio em Gaza. A nossa força vem da união e da solidariedade.

Precisamos de um Orgulho combativo, revolucionário e anticapitalista

A classe trabalhadora queer e, em particular, a juventude, têm estado na mira dos principais ataques dos Estados capitalistas e da extrema-direita. Para nós, nas Livres e Combativas, a explicação é clara: porque o nosso movimento e emancipação ameaça os alicerces do sistema capitalista e assusta a classe dominante.

Por todo o Mundo, o movimento LGBTI+ e feminista tem avançado, não apenas contra as medidas que nos afetam diretamente, mas também em solidariedade com outros movimentos como o anti-racista e contra o genocídio em Gaza. A nossa força vem da união e da solidariedade.

Mas não de união com todos e qualquer um. É preciso um movimento LGBTI+ que recuse alianças com os nossos exploradores. Os nossos aliados são aqueles que lutam e defendem uma habitação acessível para todos e um SNS e escola pública inclusivos e que não discriminem pessoas queer, em particular pessoas trans e não-binárias. É preciso transformar a Marcha do Orgulho numa manifestação política que celebre a nossa diversidade, mas também que seja um espaço em que gritamos bem alto contra todos aqueles que nos querem “converter”, os que nos atacam e os que nos querem obrigar a ser algo que não somos.

Para efetivarmos os direitos conquistados na última década precisamos de ir mais longe no nosso movimento, precisamos de nos organizar contra o sistema. É preciso recuperar o espírito da revolta de Stonewall e construir um Orgulho combativo, revolucionário e anticapitalista. Precisamos de imprimir um carácter de classe ao nosso movimento, que recuse o assimilacionismo a este sistema opressor. Que defenda uma verdadeira emancipação e autodeterminação individual de todas as pessoas queer, mas também uma emancipação social e colectiva para as pessoas queer de classe trabalhadora e exploradas.

Queremos ser o que somos!

Por um movimento LGBT combativo, revolucionário e anticapitalista!

JORNAL DA ESQUERDA REVOLUCIONÁRIA

JORNAL DA LIVRES E COMBATIVAS