“Estou convencida de que o objetivo mais importante do meu trabalho e da minha vida, independentemente das tarefas que desempenhar no futuro, continuará a ser a emancipação das mulheres trabalhadoras e a criação das bases para uma nova moral” — Autobiografia de uma mulher comunista sexualmente emancipada

Alexandra Kollontai foi uma das principais dirigentes da Revolução de Outubro, a primeira mulher da história a fazer parte de um governo democrático como Comissária da Saúde e do Bem-Estar, e é, até hoje, uma das principais contribuidoras para o feminismo socialista. Assinalando a origem da opressão da mulher nas relações de produção e lutando contra o machismo dentro da sociedade russa e inclusivamente dentro do partido bolchevique, Kollontai apontou a necessidade de desenvolver trabalho específico junto das mulheres trabalhadoras.

Kollontai: Pioneira do feminismo socialista

A sua principal preocupação era envolver as mulheres da classe trabalhadora na luta pela mudança da sociedade e compreender como o partido revolucionário e a nova sociedade poderiam enfrentar a opressão da mulher. Defendeu que não era suficiente afirmar que a libertação das mulheres chegaria com o socialismo, era necessário abordar os problemas específicos da violência machista: não abordar estas questões era permitir que as mulheres trabalhadoras se virassem para as organizações das feministas burguesas. As mulheres não se iam juntar “automaticamente” ao partido revolucionário, era preciso trabalho sistemático, consciente e organizado junto das mulheres da classe trabalhadora.

O feminismo marxista defende que a mulher só toma uma posição subordinada ao homem quando surge a propriedade privada. Só quando a riqueza produzida pela sociedade começa a ser apropriada de forma individual é que se alteram as relações sociais entre homem e mulher. É com a necessidade de assegurar a passagem dessa propriedade privada entre gerações que nasce a necessidade de controlar a sexualidade das mulheres para garantir a legitimidade dos filhos na passagem da herança.

Da mesma forma, é quando surge a propriedade privada que nasce a prostituição. Só quando surge a divisão entre opressores e oprimidos é que a mulher se vê obrigada a recorrer à prostituição para não morrer à fome. A ligação entre a fragilidade económica e a prostituição é novamente demonstrada a cada crise.

Pela dupla opressão da mulher — no trabalho e em casa — e ainda pela constante ameaça da violência sexual, Alexandra Kollontai vai ver nas mulheres um dos elementos mais avançados da classe trabalhadora. Quer na Comuna de Paris quer na Revolução Russa — as manifestações do 8 de Março de 1917 marcaram o início da Revolução —, as mulheres tomaram a dianteira da classe trabalhadora revolucionária.

A República dos Sovietes transformou radicalmente a vida da mulher trabalhadora. Disparou a criação de creches, lavandarias, refeitórios (por volta de 1920, 90% da população de Petrogrado comia em refeitórios sociais), investiu-se na saúde pública pré-natal e nas maternidades, as mulheres desempregadas conseguiam encontrar emprego, vendo-se livres de ter de recorrer à prostituição, e houve um investimento massivo em propaganda específica para terminar com o machismo presente na cultura do sistema capitalista — como a pornografia ou a representação degradante da mulher que vemos na publicidade.

A relevância da obra de Kollontai

Qualquer ideia de que o desenvolvimento do capitalismo ia trazer uma sociedade livre para as mulheres já caiu por terra: uma em cada quatro mulheres são vítimas de violência doméstica na sua vida, há cada vez mais plataformas para as jovens e mulheres que são obrigadas a vender a imagem do seu corpo e a pobreza e a precariedade aumentam cada dia para a esmagadora maioria das trabalhadoras. Ao mesmo tempo, o nosso movimento é hoje um dos mais importantes por todo o mundo: mobilizamos milhares de trabalhadoras e jovens e não vamos aceitar e calar nem mais um segundo!

Construir o movimento feminista implica a correta leitura da nossa opressão: não nos podemos propôr a mudar o sistema se não compreendemos como ele funciona! A obra de Kollontai demonstra porque o feminismo burguês foi completamente ultrapassado e, ao mesmo tempo, traz uma importante arma contra o feminismo transfóbico e reacionário que nos tentam apresentar como progressista: a mulher é oprimida pela posição na divisão social do trabalho e não por ter ou deixar de ter uma vagina.

Pela necessidade de ter uma linha clara no nosso movimento é que editamos agora esta obra, para conseguir armar todas as mulheres e jovens da nossa classe com as ferramentas necessárias para derrubar este sistema que nos oprime.

Junta-te a nós, dia 4 de Março no Porto para discutir a obra de Alexandra Kollontai e ajudar a construir a vanguarda revolucionária de trabalhadoras e estudantes organizadas!

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