Originalmente publicado pela seção do Estado espanhol a 21 de Dezembro de 2023, traduzimos esta resenha duas semanas depois de fascistas terem organizado pogroms no Reino Unido, tendo como brilhante resposta a organização de embriões de grupos de autodefesa e a mobilização de massas anti-fascista da classe trabalhadora e juventude.


"When you eat together, you stick together"

Em 2011 começou a guerra na Síria e desde então 500 000 pessoas foram assassinadas ou estão desaparecidas e doze milhões tiveram de abandonar as suas casas.

Em 2015, como resultado da fuga desesperada de milhares de refugiados sírios para a Europa, houve uma crise migratória que provocou uma onda de solidariedade entre os trabalhadores e jovens europeus, com mobilizações de massas como na cidade de Barcelona. Por outro lado, as políticas racistas e a violência institucional aumentaram. A “democrática” União Europeia prometeu nesse ano acolher 180 000 refugiados no continente, mas dois anos depois (o último ano para o qual há registos) apenas 20% destes tinha sido “acolhidos”: 27.000 pessoas que viviam (e vivem) em condições miseráveis, em campos de refugiados subrelotados, passando frio e fome.

Este é o pano de fundo do novo filme do lendário cineasta social Ken Loach. Um filme que começa com a chegada de famílias sírias a uma pequena cidade no condado de Durham, no norte de Inglaterra. Uma cidade praticamente abandonada, com a sua população duramente atingida pela desindustrialização e que ainda sofre as consequências da derrota dos mineiros nos anos 80.

J.T. Ballantyne é o proprietário do velho pub The Old Oak (O Velho Carvalho). Um ponto de encontro para vizinhos, a maioria antigos mineiros que viveram o encerramento dos seus postos de trabalho, deprimidos, bêbados, onde falam sobre melhores tempos idos.

Com a chegadas« de refugiados sírios – na sua maioria mulheres e crianças que perderam tudo – começam a surgir tensões. Por um lado, aparecem os racistas violentos que os desprezam, insultam e atacam. Depois, aparecem aqueles que juram não ser racistas, mas "em primeiro lugar os nossos". E, finalmente, aparecem as pessoas solidárias que fazem tudo ao seu alcançe para ajudar, dar abrigo, comida e companhia.

Ken Loach centra a sua história na amizade que nasce entre T.J e Yara, uma jovem fotógrafa síria. O dono do bar, confrontado com comentários cada vez mais xenófobos dos seus clientes, para lutar contra o veneno do racismo e unir a população migrante com a população autóctone – que também sofre com o abandono institucional e a falta de qualquer ajuda social – decide abrir a zona de restauração do seu bar, fechada ao público há décadas, para organizar refeições de confraternização. 

Um lugar pequeno, com problemas no sistema elétrico e nas canalizações, mas todo decorado com fotografias das históricas greves dos mineiros contra os planos de austeridade de Margaret Thatcher: os piquetes, as mulheres que alimentavam 300 grevistas todos os dias, a repressão policial...  "They shall not starve" (Não passarão fome) e "When you eat together, you stick together" (Quem come junto, permanece junto) são frases que aparecem penduradas na parede junto a fotografias da época. E é isso que fazem, 30 anos depois: refeições solidárias e gratuitas, onde se manifesta a solidariedade de classe.

The Old Oak é uma reflexão emocional sobre como é possível arrancar pela raiz preconceitos racistas que procuram dividir a classe trabalhadora pela cor da nossa pele, religião ou local de origem. Ken Loach explica porque é que o ódio anti-imigração aparece entre sectores de trabalhadores ingleses: não há empregos nem serviços sociais decentes, a especulação imobiliária sufoca famílias, regiões inteiras abandonadas pelas instituições, depressão económica... Algo que a extrema-direita explora. Mas como diz o protagonista: "quando sofremos tudo isto olhamos sempre para baixo, para os que estão pior do que nós, para os pobres bastardos que não têm nada, em vez de olharmos para cima". É isso que temos de fazer: olhar para cima, para os capitalistas e imperialistas que provocam guerras, não para aqueles que com elas sofrem e delas fogem.

O filme chega no momento ideal, com o governo de Rishi Sunak a aplicar uma política selvagem de imigração, amontoando refugiados numa prisão flutuante na ilha de Portland, e duros ataques à classe trabalhadora. Por esta razão, os filmes que apelam à solidariedade de classe por cima de quaisquer fronteiras continuam a ser mais necessários do que nunca.

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