A juventude de classe trabalhadora estudava em condições precárias e desiguais muito antes da chegada do coronavírus. Quem tem acesso às escolas no topo dos rankings, a livros de preparação para exames, a explicações particulares, quem não tem de carregar o peso do trabalho doméstico ou de trabalhar para estudar, quem tem habitação garantida, tem acesso a um ensino completamente diferente, que por sua vez vai equivaler a resultados completamente diferentes. Agora, estas desigualdades, graças ao coronavírus, acentuam-se.
O proposto para os estudantes, do básico ao superior, foi um ensino à distância improvisado. O governo toma por igual o que é desigual e entende que toda a gente tem em casa um bom ambiente para o estudo, o acesso à internet e a um computador. Isto está longe de ser a realidade. Só no ensino básico, os primeiros números apontam para perto de 50 mil estudantes sem acesso a internet. Por todos os graus de ensino existe ainda quem tenha trabalho doméstico acrescido e quem não consiga estudar em casa. Sobre esta desigualdade assenta ainda um modelo de aulas para o qual os professores não estavam preparados, sendo incapazes de se adaptar no espaço de poucas semanas. E tudo isto com o stress constante de sabermos que os nossos familiares estão a ser despedidos, postos em lay-off ou a ter de ficar em casa para cuidar dos mais novos, que antes ficavam nas creches, infantários ou nas escolas, ou a temermos a infecção dos que são obrigados a trabalhar. Durante uma catástrofe mundial, espera-se que mantenhamos o ritmo desmedido que já antes o sistema capitalista nos exigia. Mais ainda, são agora lecionadas disciplinas e cadeiras práticas que de forma alguma podem ser dadas pela internet. O ensino não pode continuar assim! Exigimos a conclusão antecipada do ano lectivo, do básico ao superior!
O sistema educativo, agora mais disfuncional que nunca, propõe-nos uma educação que não funciona, para sermos também avaliados de uma forma que não funciona. Primeiro, passamos anos a estudar e a ser avaliados de uma determinada forma para agora alterarem completamente os métodos de avaliação. Depois, são novamente aqueles que têm acesso aos livros de preparação, a explicações, a tempo e a um bom espaço de estudo em casa quem vai conseguir os melhores resultados. Os exames nacionais tratam educações desiguais ao longo de 12 anos como iguais durante 2 horas e 30 minutos. É por isto que rejeitamos os exames como forma de avaliação! Agora, durante a pandemia, e sempre! Exigimos o fim dos exames, e que a entrada no ensino superior seja feita com base na avaliação contínua!
No ensino superior, há ainda outro problema. Tendo a propina uma base económica, sempre se demonstrou uma maior barreira a nós, a juventude da classe trabalhadora. Sobre o valor da habitação e dos transportes que já não conseguíamos pagar, a propina vem ser mais um peso nas nossas costas. Hoje, os estudantes sem acesso aos espaços das faculdades, sem acesso aos seus recursos e, em vários casos, tendo perdido o trabalho, são chamados a pagar as propinas como se nada se passasse. É contra nós que se levanta uma maior barreira. Temos de ser nós a derrubá-la!
Isto veio provar, novamente, que a propina nunca se destinou a pagar o nosso ensino, mas sim a beneficiar as grandes empresas e bancos que vivem à custa de negócios com o Estado e exigem “disciplina orçamental”! O ensino só é verdadeiramente público se for de acesso universal e gratuito. O ensino superior, hoje, serve os interesses das grandes empresas que se aproveitam de estágios não remunerados e do trabalho mal pago que depois dos estudos vamos ter. Rejeitamos este ensino! Exigimos o fim das propinas, a devolução aos estudantes do valor pago neste segundo semestre, o fim dos cortes e da privatização do ensino e um investimento massivo na educação para responder às necessidades de toda a juventude de classe trabalhadora.
Os cortes na educação, a manutenção de um ensino que não funciona durante uma pandemia, a propina no ensino superior, nada disto é decidido por nós. Enquanto o ensino estiver nas mãos da burguesia, vai sempre encaminhar-se para a busca do lucro e da formação de força-de-trabalho barata! Rejeitamos esta forma de educação! Exigimos que os espaços de ensino sejam geridos democraticamente por estudantes, professores e funcionários, por aqueles que fazem da educação uma realidade todos os dias, apesar dos ataques que sofrem. Só assim vamos conseguir dirigir-nos para um ensino de qualidade!
Nos cursos onde for possível manter a normalidade e garantir o acesso aos meios de estudo para todos — aqueles em que não são necessários laboratórios, etc. —, a decisão de continuar o ano lectivo deve ser dos professores e estudantes.
No entretanto, o governo anunciou que o seu desejo é que se retorne ao ensino presencial dia 4 de Maio, data na qual a crise do coronavírus ainda não vai estar resolvida! Com uma pandemia, a proposta do governo é fechar-nos em salas, da mesma forma que, aliando-se aos interesses da burguesia, obrigou a classe trabalhadora a fechar-se nos locais de trabalho depois de se movimentar em massa nos transportes públicos. Isto é um ataque à nossa saúde, à saúde das nossas famílias e à saúde de toda a classe trabalhadora!
O Sindicato de Estudantes exige ainda o fim dos despedimentos nas escolas e o fim dos cortes salariais a professores e funcionários! São os professores e funcionários escolares que, em conjunto com os alunos, fazem com que o ensino funcione!
Apelamos a todos os estudantes, pais, professores e funcionários escolares para que apoiem e adiram à campanha pela suspensão do ano lectivo! Lutamos pelos direitos da juventude e dos trabalhadores à educação e à saúde! As nossas vidas acima dos lucros deles! Pelo nosso direito a uma educação de qualidade, pública e gratuita! Nem um passo atrás!
Suspensão imediata das aulas e cancelamento de todos os exames!
Acesso universal ao ensino superior com base na avaliação contínua!
Fim das propinas e devolução do valor do 2º semestre!
Nenhum despedimento! Nenhum corte!