É preciso continuar a mobilização para garantir uma investigação democrática e transparente e expulsar todos os machistas das nossas faculdades!

Há duas semanas uma denúncia revelou que membros da direção da associação de estudantes (AE) da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP) tiraram fotos e vídeos por baixo de saias de colegas sem o seu consentimento, mantendo um grupo de WhatsApp com membros e ex-membros da AE onde partilharam estes e outros conteúdos íntimos de estudantes. Um caso repugnante e ainda mais desprezível pelo facto de este tipo de grupos que promovem violência machista serem mantidos há anos como "tradição" por um órgão que deveria prezar pelos direitos e segurança das alunas e alunos.

No dia seguinte à denúncia a AE garantiu, num email enviado aos estudantes, que condenava estes comportamentos, que todos os envolvidos seriam imediatamente afastados do órgão — ocultando os seus nomes — e que iria continuar a trabalhar para garantir um ambiente seguro. Mas, pouco depois, o presidente da direção da AE comunicou aos estudantes que ele e o tesoureiro — David Neves e Vasco Magalhães, respectivamente, que faziam parte do grupo de WhatsApp — permaneceriam na direção com a desculpa de que “não é saudável (...) a queda geral da AE”. Pois afinal parece que o interesse em manter-se em funções se sobrepõe à segurança das estudantes. Estes machistas tinham de ser imediatamente expulsos, independentemente das consequências para a AE!

O grupo de WhatsApp é a ponta do iceberg. Foram também conhecidos relatos de comportamentos predatórios por parte de vários dos membros da AE, voltando a levantar-se o caso de uma violação por um membro da AE, com a conivência de outros membros, num dos eventos por eles organizados no FEUP Caffe. O que fez a AE? Expulsou-o discretamente, abafando o caso e protegendo o violador. Ao contrário de um ambiente seguro, os membros da AE têm por anos promovido a violência machista e sido coniventes com a impunidade dos agressores e violadores!

Conhecemos estes casos pouco tempo depois de um outro caso de violação de uma rapariga de 16 anos por três influencers em Lisboa. Demonstrações da violência brutal que jovens mulheres sofrem constantemente. Não vamos mais aguentar em silêncio! Em ambos os casos a resposta do movimento feminista e estudantil foi exemplar: a convocação de uma manifestação contra a violência machista e justiça patriarcal. 

Coletivos feministas da Universidade do Porto, entre outros, convocaram uma manifestação contra a AE para 7 de abril, o mesmo dia que havia sido convocada uma Assembleia Geral Extraordinária (AGE) em que a AE garantiu que esclareceria tudo. Foi uma manifestação combativa onde estiveram presentes cerca de 300 pessoas, estudantes da FEUP e não só, a maioria jovens mulheres, onde se entoaram palavras de ordem como “[Contra a] violência machista, resistência feminista”.

Em resposta à manifestação e à revolta generalizada dos estudantes, a AE utilizou todo o tipo de manobras para garantir que estes estudantes fossem impedidos de participar na AGE. Decidiram mudar o espaço da AGE para uma sala muito menor do que a de costume e plantaram à porta os seus amigos e praxandos desde cedo para ocuparem a maioria dos lugares disponíveis, barrando a entrada a estudantes. Ainda taparam todas as janelas para que não se pudesse ouvir o que era dito lá dentro, escondendo-se cobardemente da manifestação. Recorreram até à polícia e a seguranças privados para impedir as e os estudantes de se manifestarem nas imediações.

Ao contrário do que prometeram, não houve qualquer transparência. Continuaram a esconder os factos e os nomes dos machistas, escudando-se atrás de "implicações legais". Contrataram um advogado privado e disseram estar a tratar do assunto com "entidades responsáveis", sem as nomear ou explicar que "medidas concretas" estavam a ser tomadas. Afirmaram ainda que na altura em que souberam do caso de violação "ambas as partes foram abordadas e não houve denúncia", estando portanto o caso resolvido. Tudo isto é um insulto às vítimas e às estudantes!

O repúdio a esta AE e a mobilização das e dos estudantes foi um factor determinante para o desfecho da AGE: a demissão de David Neves e Vasco Magalhães, e a queda da direção da AE. Demitem-se de forma individual, sem assumirem qualquer culpa, apenas os dois membros cujos nomes eram conhecidos, para que se salve o resto da direção da AE. Mas a restante direção é igualmente podre. A razão para inicialmente quererem manter o presidente era garantir as barraquinhas da FEUP na queima das fitas! É esta a prioridade da direção perante um caso de violência machista! Não estão nem um pouco preocupados com as vítimas ou em garantir a segurança das estudantes da faculdade! Um exemplo acabado da degeneração das AEs, reduzidas a organizadores de festas regadas a álcool e assédio, compostas por burocratas machistas que apenas se preocupam em usar o posto para fazer dinheiro e contactos. 

Com a demissão do presidente caiu a direção da AE, e a Mesa da Assembleia Geral (MAG), outro orgão da AE, vai assumir o poder executivo da direção até às eleições de uma nova direção em maio. Mas pela forma como conduziu esta AGE ficou claro que, tal como a direção da AE, também os membros da MAG são conivente com a violência machista e protegem assediadores e violadores. Tal como não tinhamos confiança na direção da AE para conduzir a investigação, tampouco temos na MAG!

A demissão da direção da AE é uma vitória da pressão exercida pela mobilização das e dos estudantes. Mas é preciso continuarmos as manifestações para expulsar todos os burocratas machistas que se protegem uns aos outros para poderem continuar a assediar e violar impunemente. Se queremos garantir que os nossos locais de estudo são seguros, livres de opressão e violência, precisamos de continuar a mobilizar-nos e lutar por uma investigação isenta e transparente e por uma verdadeira democracia nas universidades. 

Defendemos:

- Que não podemos confiar nos órgãos da AE para se investigarem a si mesmos. As e os estudantes devem organizar uma assembleia geral à margem destes órgãos para eleger um comité de investigação com participação das e dos estudantes e de coletivos feministas para fazer uma investigação democrática e transparente.

- Que finda a investigação se organize outra assembleia geral para se discutir as conclusões e as consequências para os machistas e violadores da AE, assim como o apoio a dar à vítimas. A violência machista não pode passar impune!

- Que estas assembleias sejam públicas e verdadeiramente democráticas, abertas a todas e a todos e não apenas a alunos da FEUP. O machismo no ensino diz respeito e precisa de ser combatido por todas e todos!

Toda a nossa solidariedade para com as vítimas!

Iniciar uma investigação democrática e transparente dirigida pelas e pelos estudantes! Expulsar os machistas dos locais de ensino!

Junta-te à Livres e Combativas e Esquerda Revolucionária para construir o feminismo revolucionário!

JORNAL DA ESQUERDA REVOLUCIONÁRIA

JORNAL DA LIVRES E COMBATIVAS

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