Voltamos a viver dois novos dias de greve impressionantes no sector metalúrgico de Cádiz. Durante estes dias, a criatividade, a resistência e a força de milhares de trabalhadores alcançaram o seu máximo grau de tensão. Enfrentando a patronal, a polícia, os meios de comunicação e esses burocratas que se definem como “representantes dos trabalhadores”, a classe trabalhadora gaditana está a dar um exemplo muito valioso de dignidade operária.

Durante o décimo-primeiro dia da greve, voltámos a ter piquetes massivos em Navantia e Dragados. Centenas de trabalhadores continuamos decididos a manter a paralisação total no sector metalúrgico.

As pressões são enormes e sabemos que muitos companheiros, com uma grande dor, se vêem obrigados a ir trabalhar. Estes companheiros, que são e serão companheiros, não têm nada que ver com os burocratas, a quem a solidariedade de classe e o sacrifício por um contrato digno são completamente alheios.

Em San Fernando vimos bem essa distinção. Na quarta-feira, após uma assembleia com 300 trabalhadores, vários membros do comitê de empresa da Navantia decidiram descer para cumprir os desígnios do patrão: tentar obrigar o comité de greve da CGT a aceitar a entrada de um serviço mínimo de limpeza. A resposta do comité de greve e do conjunto do piquete, incluindo as trabalhadoras da limpeza, foi clara: não, não e não.

 A patronal compreendeu que precisava de algo mais para curvar essas titãs da luta da classe trabalhadora que são as trabalhadoras da limpeza do estaleiro. E lançaram uma ofensiva mesquinha de pressões e chantagens. As companheiras resistiram exemplarmente durante horas, até que o ultimato foi dado: “ou entram a trabalhar, ou toda a artilharia repressora da patronal cairá sobre vocês”. Todos os trabalhadores em greve compreendemos o que estava a acontecer. Que as nossas companheiras se vissem obrigadas a entrar não era uma traição, era apenas uma mostra dos métodos repugnantes da patronal e da servidão desses burocratas que usurpam a representação dos trabalhadores.

Horas depois, pudemos discutir tudo isto na assembleia geral do metal realizada nos estaleiros de Cádiz. Esta assembleia estava rodeada por um dispositivo policial característico dos tempos em que fazer assembleias e a liberdade sindical era um crime. E o mais vergonhoso é que os responsáveis políticos por este dispositivo policial são precisamente o "governo mais progressista da história", incluindo uma ministra do trabalho com cartão do PCE. Absolutamente lamentável.

 Mas apesar de todas as pressões, chantagens, agressões e repressão, a vontade da assembleia foi clara: a greve continua e a nossa luta contra os burocratas nos comités de empresa continua.

 A 12ª jornada da greve voltou a ser uma grande mostra de democracia operária. A responsabilidade de qualquer dirigente sindical é falar claro e expor as dificuldades durante uma batalha. Só assim se pode endurecer e preparar o conjunto da nossa classe para os combates decisivos.

 Os companheiros da CGT e da CTM não ocultaram a existência de burocratas, nem a vontade nula de negociação da FEMCA, nem o boicote da burocracia sindical. Expor os desafios que a greve enfrenta para tomar decisões conscientes, sem tutelar e deixando as assembleias decidir, é fundamental.

 A diferença entre um sindicalista honesto e a burocracia é que os verdadeiros lutadores falam e sentem como o conjunto da nossa classe, não utilizam a diplomacia podre para enganar. Expõem a realidade como qualquer um com o único interesse de fortalecer a luta da classe trabalhadora.

 E assim se desenvolveram as assembleias em San Fernando e Dragados. Quais foram as conclusões dessas assembleias? Sim, existem dificuldades, ninguém disse que a luta da classe trabalhadora fosse simples, mas estamos dispostos a manter a pressão. A nossa classe move o mundo e é capaz de derrotar a patronal. Por isso mantemos a greve e continuamos em luta.

 Mas uma conclusão muito mais importante é que, independentemente de conseguirmos ou não um acordo melhor, a guerra contra a patronal é muito mais longa. E uma das nossas fraquezas é que na nossa representação legal temos mordomos da patronal. São esses burocratas que assinaram o acordo de miséria e paz social que agora rejeitamos. Por isso a nossa obrigação é expulsá-los dos comités de empresa e construir o sindicalismo combativo que hoje está a dirigir a greve indefinida no sector do metal. Esse é o caminho para derrotar a patronal.

Nem um passo atrás na luta do metal!

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