Os últimos anos foram marcados por intensas tempestades tropicais, cheias, secas e incêndios devastadores e ainda uma pandemia — intimamente ligada à destruição da biodiversidade do planeta — que conta com mais de 6 milhões de mortos. Ainda assim, e retirando os anos de pandemia em que a produção industrial abrandou, verificou-se um aumento na emissão de gases de efeito de estufa de 1% por ano. Como pode ser que todos os anos se reúna a COP para os líderes mundiais virem dizer ao mundo que não foi feito suficiente?
Por todo o mundo, a juventude levanta-se e luta por uma saída desta loucura de poluição e destruição. Cada vez mais jovens chegam a conclusões revolucionárias, apesar de todas as tentativas de desviar a nossa luta para as instituições capitalistas e, assim, asfixiar o movimento. As últimas ações de ocupação e protestos mostram o caminho a seguir!
Zero confiança nos governos burgueses!
O Protocolo de Kyoto veio e foi sem impacto nenhum. O mesmo podemos dizer sobre a Convenção de Estocolmo… e o Acordo de Paris… e as 27 COPs feitas desde 1995. Quanta lata é preciso ter para se ser um dirigente estatal e todos os anos dizer que os dirigentes estatais não fizeram o suficiente? A culpa não é do espírito santo, se nada foi feito é porque tudo o que é preciso fazer incomoda os capitalistas!
Esta é a realidade da “luta” climática que os representantes da burguesia dizem fazer: manobras estéticas e propaganda que não têm qualquer impacto. A crise climática é produto do sistema capitalista e não vão ser os representantes políticos deste sistema que a vão parar — seria o mesmo que esperar que um pirómano fizesse um bom trabalho como bombeiro! Travar a total destruição do nosso futuro implica um choque frontal com os interesses dos capitalistas e a nossa força vai estar na nossa organização e luta nas ruas, estudantes e trabalhadores juntos, contra o sistema que o Estado defende e as forças “de segurança” que usa para reprimir quem se mobiliza pelo nosso futuro.
Está claro que só a nossa classe vai ser afetada pelas alterações climáticas: a burguesia consegue comprar infraestruturas que evitem cheias, contratar bombeiros privados para salvar as suas mansões e empresas, investir em bunkers de luxo que os protejam de todas as consequências dos males que eles conscientemente trouxeram ao mundo! Como em qualquer outra conquista histórica dos trabalhadores — a saúde e educação públicas, o salário mínimo e as folgas, a segurança social e muitas outras —, só podemos confiar nas forças que as nossas fileiras têm para conseguir mudanças reais.
A luta tem de ir mais longe!
Em 2019, as ondas da Greve Climática Estudantil chegaram a Portugal. Foram várias as manifestações que encheram as ruas de Lisboa, Porto, Algarve e outras tantas cidades. Naquele momento, as principais reivindicações eram contra a construção do Aeroporto de Montijo e contra as dragagens no rio Sado (que trazem um perigo imediato para a população abastecida pelas águas do rio). Contudo, 3 anos depois de enchermos as ruas com milhares de estudantes, as dragagens foram feitas, a construção do aeroporto só ainda não começou por desentendimentos burocráticos dentro do governo e a produção é hoje mais poluente que em 2019.
A conclusão só pode ser uma: temos de ir mais longe. É neste contexto que surgem as ocupações estudantis. O Estado governa para a classe dominante, para os seus lucros: só parando o funcionamento da sociedade podemos forçar a sua mão. No dia 7 de novembro começaram as ocupações de 4 escolas e universidades. Todas as ocupações levantaram como exigências comuns o fim do uso dos combustíveis fósseis, a demissão do atual ministro da Economia e do Mar, António Costa e Silva, e ainda a garantia de uma transição para os trabalhadores das indústrias poluentes.
Outro grande passo em frente dado pelo movimento é, além de levantar exigências para evitar a catástrofe climática, levantar também exigências que tocam em necessidades dos estudantes: o fim da propina, a diminuição do preço da refeição na cantina escolar, apoios na habitação, despedimento de professores que assediaram alunas ou que propagam ideias machistas, racistas e homofóbicas, a mudança do atual modelo de ensino, entre outras. Somos nós, estudantes, professores e trabalhadores do ensino quem faz funcionar as escolas e universidades, somos nós quem deve decidir sobre como funcionam! Os nossos espaços de estudo têm de ser seguros e acessíveis a toda a classe trabalhadora, e não ser espaços para os filhos das elite! A organização de assembleias para decidir as ações de luta e as tarefas a cumprir durante a ocupação, a formação política de novos ativistas, a recolha de fundos e meios para se poder manter as ocupações, a formação de um serviço de ordem (os “Peacekeepers”) para defender a segurança dos ocupantes e a luta pela extensão das ocupações a novas escolas e faculdades são gigantescos passos em frente e são também fundamentais para o controlo democrático dos espaços de ensino.
Interrompidas algumas ocupações pela polícia e por seguranças privados, ao fim de 5 dias de luta dentro das escolas e universidades, os ativistas reuniram-se numa manifestação que terminou num edifício onde estava o ministro da Economia e do Mar. Numa nova demonstração de firmeza, dezenas de ativistas invadiram o edifício exigindo a demissão de Costa e Silva. Novamente removidos pelos agentes de “segurança”, a mensagem foi entregue: não descansamos até termos um futuro assegurado!
O próximo passo é estender a luta a toda a nossa classe!
A classe dominante e o seu Estado não nos vai entregar nada pela sua boa-vontade. Vamos ter de arrancá-lo com unhas e dentes. Enquanto somos considerados criminosos por lutar pelo planeta, chefes de Estado de todo o mundo reúnem-se no Egito, onde governa uma ditadura militar, para novamente fingirem que estão muito preocupados com o desastre climático.
Não podemos baixar os braços! Está na hora de estender a luta a toda a classe trabalhadora que é quem tem a força para parar a produção capitalista e, mais ainda, para organizar toda a produção e toda a sociedade sobre uma nova base, um sistema que não envenene este planeta Um programa que vá contra os interesses da burguesia, de total ruptura com o sistema capitalista, que coloque as nossas necessidades à frente dos lucros deles, tem o apoio de largos setores dos trabalhadores.
É a nossa classe que faz o mundo andar, são os métodos de luta da nossa classe os únicos que podem transformar o mundo! Protestos massivos nas ruas, greves, ocupações, criação de comissões de estudantes, comissões de trabalhadores, comissões de moradores e todas as formas de organização que necessitarmos para decidir sobre a nossa luta e sobre as nossas vidas — este é o caminho! Só a nossa ação direta, tomando o controlo daquilo que produzimos e de como produzimos, pode salvar-nos de uma catástrofe climática.
É preciso ir à raiz do problema e lutar:
- Pela nacionalização de todo o sector da energia sob controlo dos trabalhadores para garantir a transição energética sem perda de postos de trabalho e o fim da especulação com os preços de energia!
- Pela nacionalização da banca sob controlo dos trabalhadores para dar um golpe mortal no capital financeiro que lucra com os combustíveis fósseis e a destruição do planeta, assim como para garantir que temos controlo sobre toda a riqueza produzida pelo trabalho da nossa classe e a colocamos ao serviço da população e do ambiente!
O capitalismo mata o planeta!
Se queres salvar o ambiente, luta pelo socialismo!