Nem a AfD, nem a CDU, nem os partidos do governo responsáveis por esta crise são uma opção para a classe trabalhadora! Temos de responder nas ruas!
O regresso de Donald Trump à Casa Branca encheu de confiança os partidos de extrema-direita e neo-fascistas de todo o mundo. E na Alemanha não foi diferente. A pouco menos de um mês das eleições federais [artigo originalmente publicado a 10 de fevereiro], a AfD continua a crescer e já tem 22% de apoio, segundo algumas sondagens. Embora o vencedor das eleições seja quase de certeza a CDU de Friedrich Merz, que continua a excluir, para já, uma coligação com a AfD, a ascensão da extrema-direita está a tornar-se um perigo cada vez mais real.
A AfD passará de quinto partido no Bundestag a segunda força, ultrapassando mesmo o SPD pela primeira vez. O discurso racista promovido por praticamente todos os partidos após o atentado de Aschaffenburg, criminalizando a comunidade muçulmana da mesma forma que Trump faz em relação aos hispânicos, é uma verdadeira dádiva para a AfD, abrindo caminho para que continuem a avançar. Se a questão é ser racista, o SPD ou Sarah Wagnenknecht não vão ganhar esta batalha contra a AfD!
O outro aspeto importante é o estado de espírito e as divisões entre a classe dominante. O discurso de Elon Musk na conferência do partido, fortemente aplaudido pelos líderes da AfD, não é uma coincidência ou uma atuação estranha. A AfD tem ligações muito importantes com a classe capitalista e os grandes monopólios alemães. Pensar que estes movimentos são anedóticos e que a AfD ou Trump são outsiders ou políticos anti-establishment é um completo disparate. A AfD conta com o apoio crescente de sectores da classe dominante, que naturalmente não lhes virará as costas se chegarem ao governo, como se viu agora claramente na tomada de posse de Trump, que contou com a presença dos CEO das grandes multinacionais norte-americanas.
Os acontecimentos na Áustria, apesar de todas as diferenças, são também um sério aviso: as semanas que se seguiram às eleições, após a vitória do FPÖ de extrema-direita, foram marcadas por um "suposto" cordão sanitário dos partidos "democráticos". E agora? A crise é tão profunda que todas as negociações falharam e o FPÖ fará provavelmente parte do novo governo com o apoio da chamada direita "democrática".

Tendências neo-fascistas prevalecem no congresso da AfD
A AfD está longe da "moderação". Pelo contrário, está a tornar-se cada vez mais de extrema-direita. Este facto não é apenas evidente nas campanhas xenófobas, como os "bilhetes de deportação" distribuídos pelo partido em Karlsruhe às famílias com nomes "estrangeiros", ou nas novas propostas de abolição da dupla cidadania.
No congresso do partido em Riega, Alice Weidel, eleita por unanimidade como cabeça de lista do partido — que em 2017, como representante da "ala moderada", levantou a possibilidade de expulsar Björn Höcke [anterior líder] por usar a mesma retórica — defendeu abertamente a exigência fascista de "remigração" no seu discurso. Há um ano, quando foi revelada a realização de uma conferência secreta em Potsdam com estes mesmos planos, que apelavam à expulsão violenta de milhões de imigrantes, a direção da AfD distanciou-se oficialmente destes planos. Agora, porém, foram incluídos no manifesto eleitoral do partido, e Alice Weidel foi ovacionada após o seu discurso com gritos de "Alice pela Alemanha", emulando o slogan nazi das SA "Todos pela Alemanha".
Para não falar do seu entusiasmo por Elon Musk, que orgulhosamente fez a saudação hitleriana três vezes em público após a tomada de posse de Trump, e que se dirigiu ao congresso salientando que só a AfD pode salvar a Alemanha da ruína, em termos muito semelhantes aos utilizados pelo partido nazi antes de chegar ao poder. AfD — Hitler — ou o caos! Este é o novo lema da campanha.
Mas o fator decisivo não são as figuras de Weidel, Tino Chrupalla ou Björn Höcke, mas sim a base social reacionária sobre a qual assenta o partido: um sector empresarial que explora de forma brutal a classe trabalhadora migrante, especialmente no campo, e amplos setores das classes médias atingida pela crise, bem como sectores desmoralizados da classe trabalhadora desempregada ou empobrecida.
A AfD mobiliza estes estratos com um vasto repertório de demagogia, propondo reduções fiscais agressivas e cortes em benefício do patronato e, ao mesmo tempo, incubando o veneno do racismo, culpando a imigração por todos os problemas sociais e defendendo uma mão de ferro, abrindo caminho a duros ataques aos direitos democráticos e sindicais. Uma política repressiva e autoritária, que foi levada a um nível sem precedentes pelo Governo Scholz, especialmente contra o movimento de solidariedade com o povo palestiniano. Como podem então ser credíveis os seus patéticos apelos à contenção da extrema-direita?
É óbvio que um governo da AfD não significa imediatamente uma ditadura fascista, mas as tendências bonapartistas e autoritárias são claras e os paralelos com a década de 1930 são cada vez mais evidentes. Também nesses anos o SPD não hesitou em apoiar os governos bonapartistas da República de Weimar, que implementaram uma repressão brutal, acabando por abrir caminho aos nazis.

O capitalismo alemão numa encruzilhada
Na nossa declaração após o colapso do governo do semáforo, explicámos que uma coligação entre a CDU e a AfD é improvável. Não por causa de um alegado "cordão sanitário" — que se desmoronou como um castelo de cartas depois de Merz ter anunciado que votaria com a AfD em políticas migratórias ainda mais racistas após os atentados de Aschaffenburg — mas por causa da posição contraditória dos dois partidos na luta inter-imperialista entre os EUA e a China. Por detrás da rejeição de Merz a uma coligação com a AfD está a pressão de sectores-chave do imperialismo norte-americano, que não confia nas atitudes contra a guerra na Ucrânia e a favor da manutenção das relações com a Rússia expressas publicamente pelos líderes da extrema-direita e na sua atitude em relação à manutenção de boas relações com a China.
A guerra na Ucrânia e as sanções contra a Rússia não foram apenas caprichos de Biden que Trump pode agora reverter facilmente. Como temos vindo a explicar, foi o imperialismo dos EUA, e não a Europa, que forçou a guerra na Ucrânia. A razão: lutar pelo domínio na Europa contra a crescente influência chinesa. Por isso, um dos principais objetivos do imperialismo norte-americano era cortar os laços energéticos cruciais da Alemanha com a Rússia, atingindo duramente a economia alemã e derrubando a sua poderosa indústria que também compete com os capitalistas norte-americanos. E parece que, de momento, estão a atingir os seus objectivos.
Mas a situação é altamente contraditória, e a eleição de Trump complicou-a ainda mais. O braço direito de Trump, Elon Musk, seguiu uma agenda completamente diferente, apelando ao voto na AfD, e os seus líderes de extrema-direita vêem Trump como o seu modelo, com Tino Chrupalla presente na sua tomada de posse.
Esta posição de Musk, que apela ao voto na AfD, que se opõe à guerra na Ucrânia e denuncia a subserviência do governo Scholz ao imperialismo norte-americano, pode parecer louca. Mas tem a sua própria lógica. Este bilionário neofascista, que defende a eliminação dos direitos laborais, defendendo semanas de trabalho de 80 horas, e que quer erradicar quaisquer direitos sindicais, expressa os sonhos de importantes sectores da classe dominante alemã e mundial que querem atacar a esquerda radical, os movimentos sociais e o sindicalismo combativo. Isto não é muito diferente da simpatia que Hitler suscitou entre a classe capitalista em França, na Grã-Bretanha e mesmo nos EUA pela sua luta contra o comunismo, o socialismo e o sindicalismo.
Estas contradições põem em evidência a situação complicada em que o novo governo se vai encontrar, independentemente da coligação que for formada. É claro que a AfD não as pode resolver, tal como Trump não as pode resolver nos EUA. Por enquanto, Merz quer, seja com os Verdes, o SPD ou ambos como parceiros, aprofundar a agenda agressiva dos EUA na Europa. De facto, ele já tentou aproximar-se de Trump, sublinhando publicamente que vê "mais semelhanças do que diferenças". Um dos seus primeiros projectos seria um novo acordo de comércio livre com os EUA, embora tenha sido Trump a travar o último (TTIP) em 2017.
Como dizia Lenine, a política é a economia concentrada, e os números que se seguem exemplificam claramente a situação desesperada do capitalismo alemão. Só no primeiro semestre de 2024, o investimento direto alemão na China foi 13% mais elevado do que em todo o ano anterior (7,28 mil milhões de dólares) e as exportações chinesas para a Alemanha aumentaram 8%. Ao mesmo tempo, a Alemanha continua a ser o quarto maior parceiro comercial dos EUA e o mercado estado-unidense continua a ser o mercado número um para os produtos alemães. A Alemanha foi duramente afetada pela crise mundial de sobreprodução e encontra-se presa entre duas frentes.
Este salto qualitativo na crise capitalista tornará, mais cedo ou mais tarde, todas estas contradições insuportáveis e dará à AfD, como única "oposição", um impulso ainda maior. E, tal como nos EUA, cada vez mais sectores da classe dominante chegarão à conclusão de que a saída necessária para defender os seus interesses é ir para a extrema-direita.

É preciso construir uma alternativa genuinamente revolucionária!
Nesta situação, os líderes da esquerda reformista e parlamentar e os sindicatos oferecem à classe trabalhadora apenas desculpas e derrotas. Ou acordos salariais miseráveis como o da Volkswagen (VW), em que se aceitam cortes e encerramentos de fábricas, ou ofertas constantes da direção do Die Linke ao SPD ou aos Verdes para participar na governação. Mas o problema não é apenas a ameaça da extrema-direita, que é muito grave, mas também a crise capitalista e a constante deterioração das nossas condições de vida e de trabalho. Tudo isto exige uma resposta consequente da esquerda, uma resposta internacionalista, antifascista e socialista, que confronte a reação e os capitalistas.
Apesar das afirmações dos dirigentes do Die Linke sobre uma nova abordagem baseada na "escuta" e na resposta às preocupações dos cidadãos porta a porta, a realidade é que o partido enfrenta uma crise brutal que pode significar o seu desaparecimento do parlamento. E fá-lo porque abandonou os fundamentos, a luta nas ruas e um programa genuinamente de esquerda, para se concentrar no mero jogo parlamentar e nas políticas "realistas" incapazes de enfrentar a reação. A nova esquerda reformista, Die Linke, Sanders, Corbyn, Syriza ou Podemos, pretendia instaurar um capitalismo de rosto humano, mais democrático e social, dizendo-nos que não era necessário lutar pelo socialismo. Hoje, as suas ideias estão em farrapos. É necessário tirar conclusões.
Ao mesmo tempo, a BSW, uma cisão de direita do Die Linke, ao mesmo tempo que critica a crise da esquerda, confronta-a com um discurso absolutamente reacionário, com posições abertamente racistas e chauvinistas, fazendo o jogo da AfD e defendendo políticas capitalistas nacionalistas.
Perante este vazio, é necessário reconstruir, a partir de baixo, uma alternativa revolucionária para a classe trabalhadora. Isso não significa que sectores da juventude e da classe trabalhadora não se mobilizem nas eleições contra a ameaça do AfD, e que logicamente o voto no Die Linke aparece como a melhor opção nesta difícil conjuntura. Mas o que é crucial é a forma como vamos travar a batalha depois de 24 de fevereiro.
Toda esta situação está também a despertar uma crescente consciência antifascista e indignação entre a juventude e os sectores militantes da classe trabalhadora. As mobilizações contra o congresso da AfD ou os protestos ou mesmo bloqueios contra eventos da AfD nas grandes cidades, todos eles duramente reprimidos pela polícia sob o governo do SPD, são um exemplo. Um movimento que tem de se construir e crescer a partir de baixo, através da ação direta, de ações de classe e greves, e levantando a bandeira do anticapitalismo, do internacionalismo e do socialismo.
Não há saída sob o capitalismo, mas a Alemanha tem enormes recursos, um sector industrial muito poderoso, sectores tecnológicos muito avançados, mas que estão nas mãos dos grandes monopólios, dos carteis financeiros e dos bancos! É preciso expropriar toda esta riqueza e colocá-la nas mãos da classe trabalhadora, alemã e imigrante, e utilizá-la para construir um mundo melhor, um mundo socialista. É possível! Junta-te ao Ofensiv para o fazer!